Dantes era reservada, durante muitos anos tímida. Gostava de me enfiar na concha e ficar a espreitar o mundo de lá. Protegia-me com a noção de que seria fácil alguém me magoar. Anos de sensibilidade à flor da pele.
E agora não.
Conto histórias minhas aos alunos. De como não me lembro na minha infância, de como a bloquei para não chorar por a ter perdido abruptamente, por ter tido de crescer tão depressa. Daqueles primeiros anos de aulas, daquele lugar no meio de um bairro de lata em que leccionei no meu segundo ano de profissão. Do menino com o rosto marcado pelo chicote do pai, da mãe que me queria dar a filha, uma menina doce de apenas seis anos. São histórias enfiadas no meio dos conceitos mas a propósito deles, ainda não me perdi a contar histórias que são só minhas e que não têm nenhuma relação com o que estamos a trabalhar. Ainda não envelheci tanto assim.
Mas perdi a reserva, o medo e a pele está curtida. De nada servia a concha, já me magoei tanto, acho que não me magoarei muito mais.
~CC~
... e isso, como sabes,está a ajudá-los não só a pensar, mas também a sentir :)
ResponderEliminar_______~
em nome deles,dos teus alunos,apetece-me agradecer-te :*
Tomara que tenha razão.
ResponderEliminarBoa noite, CC
A propósito da ultima frase, o pessoa falava na indiferença que resulta de se sofrer muito. Também há que diga que passar pelas coisas nos cria casca grossa e protege no futuro.
ResponderEliminarResta saber se isso é coisa boa ou não.
Alexandra, já tinha essa intuição mas confirmei-a na conferência de um neurologista sobre aprendizagem em que entre outras coisas interessantes que disse mencionou a ligação entre emoção e aprendizagem.
ResponderEliminarAna, não sei bem, talvez tenha ou não. Certo é que num mundo tão cheio de dor ela banaliza-se, contra isso luto. A nível pessoal acontece às vezes e quando acontece é intenso (como me aconteceu hoje).
Luís, acho que sim, sofrer deu-me escudo protector mas não completamente, o que é bom, pois se não vivia na indiferença e não vivo mesmo nada.
~CC~