domingo, 1 de julho de 2018

Das perguntas (a mim)



Era uma miúda com uns oito anos, belos olhos redondos pretos, tom de pele de canela e cabelos longos, muito escuros. Ia pela mão de um adulto, talvez o pai, homem entre os 30 e os 40 anos. Passei ao lado deles e pude ouvir claramente a pergunta dela:

- Quando é que eu posso usar a jillaba?

Levei comigo a pergunta dela por todo o resto do caminho que fiz. Como é que uma criança a viver em Portugal, com um cabelo tão espantosamente bonito, pode um dia querer cobri-lo? Como é que querer crescer pode ser um desejo em vez de gozar espantosamente a liberdade da infância? Lembrei-me então das miúdas pequenas com as unhas pintadas, do seu desejo de pintar unhas das mãos e dos pés. Pensei em qual das coisas me chocava mais, se uma coisa que estava dentro das referências culturais ocidentais ou uma que não estava.

E cheguei à conclusão de que uma e outra me provocavam grande desconforto.

~CC~

2 comentários:

  1. Num como noutro caso, trata-se do desejo de imitar os adultos. Cada um com a sua referência. Embora no caso da menina dos cabelos longos, acredite que não a deixem usar antes do devido tempo.

    Também não gosto de ver as meninas com as unhas pintadas.

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  2. Pois é Luísa, quando abrimos bem os olhos, há sempre inquietação...
    ~CC~

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