Transmitimos a ideia de que à sua maneira são únicos, que terão que deixar a sua marca no mundo, por mais pequena que seja. Acho que é a única coisa que fazemos mais ou menos bem. Este ano emocionaram-me duas vezes pelo valor do seu trabalho e correram-me lágrimas. Ontem foi uma delas. É o alento que vale, o que fica para além do ordenado ao fim do mês, o trabalho pelo pão necessário. É a poesia, mesmo quando servida em doses pequenas, ela é o outro sustento e, sem dúvida, o mais maravilhoso.
~CC~
Recordo a última e muito esperada aula. Os alunos que andavam mais adiantados, diziam-nos que aquele professor deixava a última aula do ano lectivo, para contar uma história. A história da avó. Foi pois com grande ansiedade que a turma correu ao anfiteatro. A sala estava cheia. Alunos mais velhos vinham assistir e ouvir pela segunda e terceira vez. O professor entrou e sorriu. Já sabia ao que vinhamos. Vi mais alunos naquele dia do que nas aulas de preparação para os testes... e estou a vê-lo!
ResponderEliminar"Quando meu avô morreu, perguntei à minha avó porque estava tanta gente no funeral. E ela disse-me que era porque o avô tinha sido um bom homem, trabalhador, honrado, humilde, justo, amigo do seu amigo e estimado pelo povo da aldeia. Mas logo me disse que eu não devia seguir-lhe o exemplo. O avô nunca sonhara - fora um zé-ninguém. A humildade não levava a lado nenhum. Eu deveria ser ambicioso, nunca me contentar em demasia com o que obtivesse. Estudar, estudar a vida toda, trabalhar e nunca parar a olhar deslumbrado para trás. Porque o caminho se faz caminhando. As pessoas podem bater nas costas do coitadinho, do humilde, mas respeitam verdadeiramente, reconhecem e temem o homem bem sucedido, competente, com desejo de conquista por uma posição melhor, um estilo de vida, um objetivo. Deveria sonhar sempre e lutar para alcançar os meus SONHOS".
Foi uma aula extracurricular que me ficou para a vida.
Normalmente concordo consigo. Hoje não e nem com o tão admirado professor.Em primeiro lugar porque não vejo antagonismo entre ser humilde e despretensioso e lutar por sonhos. Em segundo porque esse perfil não serve a todos, há gente que se está nas tintas para o sucesso porque simplesmente esse não é o seu modelo de vida e sonham diferente. E em último lugar, ser temido é uma parvidade que dá a ilusão de superhomem. Pergunto, para quê.
EliminarResumindo: essa não a história que eu contaria se alguma vez contasse uma história
Se é a alunos que se refere, sim, julgo que passar-lhes a ideia de serem pessoas e seres únicos é importante; depois, se deixarem no mundo um risquito que seja, é bom.
EliminarE eu que sou um bocadinho dada às insónias e ao egotismo, queria deixar em cada um, um sinal bom que em algum momento lhe fosse muleta... sonhos.
Boa noite
Tenho de ter cuidados redobrados quando sou lido pela Bea!
EliminarA crónica realmente saiu com falhas. Não sopesei as palavras. Sobrou-me em entusiasmo o que me faltou em talento e memória — é que já lá vão uns anitos.
Sem ironia, tivesse a narrativa sido escrita por si e o lance surtiria com outro efeito.
O mesmo efeito que surtiu em nós. Lembro-me que na altura, a mensagem passava e era bem recebida pelas turmas.
Aliás foi um excelente professor e que por sinal, anos mais tarde, viria a dar num muito criticado PGR.
PS - espero que a CCF não leve a mal o abuso do seu espaço.
Claro que a ~CC~ gosta que venham aqui debater:)
ResponderEliminarConcordo e discordo um bocadinho com os dois. Com o Joaquim: concordo com a ideia de "não parar a olhar deslumbrado para trás". Discordo do "bem sucedido", pois o sucesso reside justamente no que cada um alcança ou quer ser e não no que é vulgar se lhe associar, normalmente "dinheiro". Com a Bea concordo com a ideia da "singularidade" e por isso mesmo não posso concordar com a ideia de lhes deixar "sonhos", eles é que têm que os construir, no fundo acho que queria dizer "a capacidade de sonhar", embora eu ache que isso é tão importante quanto a capacidade de lutar/de batalhar por eles, pois sonhar ainda assim é fácil.
~CC~
Bom, a escrita tem isso, dá azo a confusões. O que eu quereria deixar aos alunos era uma lembrança boa que os ajudasse no futuro, sonhos que eram meus e não deles; não tenho a pretensão de ter conseguido.
ResponderEliminarSabe ~CC~ interpretei os "sonhos" da Bea de forma diferente. Não como os sonhos para os alunos, mas como sonhos dela própria por sentir que se calhar não passou de uma quimera "deixar em cada um, um sinal bom que em algum momento lhe fosse muleta".
ResponderEliminarIsso mesmo, Joaquim:)
ResponderEliminarBFS
Isto à volta de um cafezinho explicava-se tudo muito melhor, mas assim também foi giro:) Bom fds aos dois.
ResponderEliminar~CC~