domingo, 19 de maio de 2019

Ser onda



Não fora a viagem de avião de 4 horas para cá e para lá e há muito que não tinha nenhum livro sobre o qual falar. Não ter tempo nenhum para ler é coisa que me faz ansiar pelos tempos da reforma, se é que ela esperará por mim ou eu por ela. Levei a "Vegetariana", do qual muito já tinha ouvido falar e se tornou reconhecido a nível mundial.

Leio muito rápido e o livro era absolutamente estranho. Proporcionou-me algo que me tem acontecido nos últimos tempos e não era vulgar em mim: não sei se gostei ou não. Tenho um amigo que me disse sempre que eu era das únicas pessoas que era capaz de usar a palavra detestar. E era verdade, ao longo da vida usei muitas vezes a expressão: detesto isso! Ele diz que a usava com tal força que ele até tremia (aí era um bocadinho exagerado). Lentamente esse poder de rejeição tem me vindo a abandonar, talvez seja a patine dos anos, a tendência para ver mais do que um lado em cada coisa. Só tenho pena que isso talvez me leve a amar menos também, detesto menos mas também amo menos. Falta-me a paixão. 

Mas há uma coisa que sei sobre o livro: não se esquece e um livro que não se esquece é sempre poderoso pois há muitos livros que li e sobre os quais não me lembro de quase nada, a história desapareceu no pó dos anos. Mas jamais esquecerei a história dos Cem anos de Solidão, dos Capitães de Areia ou dos Sinais de Fogo. Trago agarrada a mim a história de um livro pequenino e pouco conhecido: " Quem me dera ser onda", é de facto um dos livros da minha vida. E isso ainda me faz viver, quero muitas vezes ser onda.


~CC~




6 comentários:

  1. O tempo somos nós que o fazemos.

    E combate essa falta de paixão, combate. Sei bem o que isso é, o adormecimento.
    A paixão é que nos separa das batatas. Mas podia apaixonar-me por uma batata apaixonada.

    ResponderEliminar
  2. Gosto de menos coisas, mas gosto mais dessas menos coisas de que gosto e por isso invisto mais nesse reduto. O inverso também acontece: dar menos, quase nada ou nada, à parte de que não gosto.

    Essa patine dos anos de que falas, no meu caso tem mais a ver com tolerância com os gostos dos outros, maneiras de estar, etc.

    ResponderEliminar
  3. Abordou três livros que li e amei, e no entanto, dois deles já quase esqueci. Porém, lembro-me de todas as mulheres por quem passei ao longo da minha vida.

    ResponderEliminar
  4. Ao contrário da CC, eu leio devagar, mas isso não me impede de me esquecer rapidamente do que li. É um drama.

    ResponderEliminar
  5. Luís, essa das batatas apaixonadas é engraçada, pensamos sempre nelas como uma coisa meio neutra e sem sabor:) Já fui muito apaixonada mas nem sempre isso foi bom, gosto desta tranquilidade de agora. Mas ainda me sobra...a onda!
    Isabel, vamos mudando e eu acho que é por fora e por dentro (isto depois de ler o seu post) e não são os estereótipos sobre a idade, é outra coisa, é o caminho de cada um.
    Joaquim, um amor vivido não se compara a um livro, também não esqueço os meus, até os que pensei que por serem curtos ou na adolescência ia esquecer. Mas um livro, se me toca muito, também não o esqueço. Ou se como este, é apenas estranho, um bocadinho chocante...
    Luísa, é uma coisa que me faz confusão, esquecer a história de livros ou de filmes, pois eu tenho muito boa memória.
    Abraços quatro e boas leituras
    ~CC~



    ResponderEliminar
  6. e as batatas não são gente também? :)
    sim paixão pelas batatas, pela hortaliça e por tudo que mexe. Quando a emoção morre, morremos.

    ResponderEliminar

Passagens