sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Crónicas do Verão (VIII)


Há sempre um dia no Verão em que chove. Este Verão também. Estava em Santiago de Compostela e choveu tanto que tive que ir comprar um guarda chuva, o que fiz no mercado que é especialmente bonito. Gosto dessa água quando chega com calor, lembra-me a infância. Se ela chegar com frio, já não a sinto da mesma forma.

E há também sempre um dia em que tudo corre mal. Em que o teu cansaço embate na minha energia. Em que o teu desconforto por estares longe de casa embate na minha alegria de nada conhecer e estar totalmente perdida. Em que tu paras, não queres ir mais a lado algum. Em que eu quero ir especialmente a um sítio fazer uma coisa que se apossou de mim com uma vontade férrea. Nesse dia costumas ver turistas em todo o lado e pior que tudo costumas sentir-te um turista, para ti não há nada pior. Já eu não costumo importar-me muito, aceito a circunstância de estar numa praça linda cheia de gente que, como eu, a acha linda.

Nesse dia eu queria comer polvo à galega, queria comer do polvo feito na rua, em tendas. Tu querias tudo menos comer o que quer que fosse, quando ficas assim, até o apetite perdes. Andavas a custo atrás de mim e eu tentava não entristecer da tua tristeza. Tanto me apetecia abraçar-te e consolar-te como fugir de ti, como fazem os miúdos que se perdem de propósito das mães.

Há sempre um dia mais triste no Verão, mesmo assim eu esgueiro-me com mais facilidade dessa tristeza, debato-me, faço-lhe frente. Se for Inverno, derroto-me mais facilmente. Sim, é isso que amo mais no Verão, esse borboletear que se apossa de mim, sou facilmente pássaro e flor.


~CC~


6 comentários:

  1. Em três das quatro vezes que estive em Santiago, choveu. :)
    Por vezes, a chuva sabe bem. (Já tenho saudades dela.)
    Compreendo esse entristecer com a tristeza alheia, é algo que tenho dificuldade de gerir.
    Um abraço. :)

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  2. Com chuva tudo é mais triste e difícil, mas o Verão na região que agora habito é um pavor, pelo que passei a preferir os equinócios aos solstícios.
    Estive uma única vez em Santiago, em Julho de 1999, e o tempo estava esplendoroso; não me senti turista, senti-me em casa, como se pertencesse ali.
    Prometi voltar... e não consegui cumprir.
    E chegou a comer o polvo à galega?

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  3. eu hoje não estou para assunto nenhum. Amanhã volto ressuscitada:)

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  4. Há sempre um dia nas férias em que o desamor vem ao de cima. Principalmente quando antes de se partir o amor já estava ausente. O tempo de férias, muitas vezes, só vem pôr o des(amor) à prova. Há tempo, o dia todo com o outro por perto, às vezes longe de casa, onde não há refúgios, não há como evitar-lhe os olhos, as manias,  o que deslumbra e o que irrita.

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  5. Deep, já tinha saudades suas:)
    Acho que Santiago combina muito consigo, por acaso lembrei-me de si lá.
    Alexandra, são os seus olhos a ver, pois eu só mostrei uma nesga de pele:)
    Maria, para si já vai uma resposta especial à pergunta.
    Então, Bea? Feche as portas e as janelas bem, parece que vai haver ventania.
    Joaquim, sem dúvida que alguns desses dias maus podem terminar em ruptura, mas também podem ser um teste à nossa capacidade de compreensão e tolerância para com o outro e para com as diferenças que ele(a) tem face a nós, afinal não há príncipes nem princesas encantadas.

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