Apanhada pela gripe, os bombons não me sabem a nada agora. Mas tenho os apontamentos de cada sabor, laborioso trabalho de degustação a que me dedico. Infelizmente o sete, já consumido, pelo sabor a ginjinha, seria agora talvez adequado. Embora me fizesse lembrar Óbidos, era um ginja mais suave, menos acentuado do que essa invenção que se vende por lá em copos de chocolate, se não era tradição, passou a ser, afinal o que não falta são reinvenções.
Pode parecer estranho mas Óbidos foi justamente o meu tema de conversa com a moça brasileira mais nova lá do painel, era loura e branquinha, usava uma boina lilás e estava encantada, direi mesmo deslumbrada, com a possibilidade de ir a Óbidos. Queria ir para Lisboa e de Lisboa para lá e foi difícil explicar-lhe que se estávamos a norte de Lisboa, ela não precisava de ir a Sul para descer mais a Norte, mas eu faria certamente figuras muito mais infelizes lá no imenso país dela. Ela não queria ir por causa do chocolate, da ginja, ou de ser uma vila medieval muito bonita....mas por haver lá uma igreja cheia de livros!
É verdade, dizia eu, achando-lhe muita graça. Aquele deslumbramento quase infantil por uma coisa diferente, inovadora, na senda de uma mudança do mundo, era tal qual o que eu sentia na idade dela. Agora custa-me mais deslumbrar-me assim mas não quero envelhecer ao ponto de achar que já sei e já vi tudo, quero ainda guardar dentro de mim aquele gritinho infantil que ela emitia sem pudor ao falar da sua nova catedral.
~CC~
Interrupção de sabores, por motivo de gripe. O programa segue dentro de poucos dias (se não for a famigerada gripe A), não é CC? Já não há tabuletas a anunciar intervalos. Só há publicidade a jorrar em tal abundância que nos esquecemos do programa a que assistíamos.
ResponderEliminarE agora que lhe dava jeito um bombom de ginja, já o vazio lhe deu lugar. Mas não diga mal da ginja de Óbidos, a única de que consigo gostar. Sem a mariquice dos copos de chocolate. Não ligo a marcas, mas a garrafa, lembro-me, tem forma mais ou menos cónica e sempre a associo à primeira, que andei a escolher de bar em bar; e à 2ª e 3ª; e a todas que uma amiga me oferece. A amizade cria rituais: um cálice de ginja é muito mais que ele. A gente olha a garrafa e não é a ela que vê. Coisas.
Melhorinhas, CC.
Já visitei essa igreja de livros, mas sou muito tradicional, gosto deles expostos nas livrarias. Também visitei outros lugares cheios de livros e tive pena dos pobrezitos. Vi uma casa cheiinha de livros: erravam a esmo nas bancadas da cozinha, pelo chão, abarrotando a banheira. E vi uma fila inesgotável de gente que passava em procissão, dando a volta ao interior da casa. Achei deplorável. Mas há quem admire. Essa menina ia pela novidade talvez.
Bom, agora já não é uma igreja mas uma livraria, só a estrutura ficou. Eu gosto da ginjinha de Óbidos, com ou sem copo de chocolate. Mas enfim, bebo dois golinhos e o terceiro já me custa:)
EliminarÓbidos é, agora, um lugar turístico sem vida própria.
ResponderEliminarUm abraço.
Certo, o turismo tanto pode dar vida como pode matar. Para isso não acontecer, é preciso que tudo seja muito bem feito e os moradores não se substituam por turistas. Ainda assim acho admirável o trabalho do livreiro José Pinho, recentemente falecido, a quem muito se deve, designadamente Óbidos se ter tornado uma "vila literária".
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