quarta-feira, 29 de maio de 2024

Que peso aquela leveza

 

Posso compreender que as pessoas inventem novos modos de viver o amor para além da estreita norma que determina uma casa e um casalinho, preferencialmente um menino e uma menina. Alguns ultrapassaram mais fronteiras que construímos como cimento da relação, tal como a fidelidade. 

Contudo, o que me é dado ver dos novos formatos é pouco entusiasmante, normalmente entra em ruínas ao primeiro embate ou é tão forçado que parece mais um bailado clássico em que evitar cair é o principal.

No outro dia vi lágrimas a esconderem-se na cara de alguém que muito gosto, não podia chorar porque naquela relação livre não havia lugar para o choro, para a tristeza, para a raiva, tinham combinado ser leves. 

Que peso aquela leveza. 

~CC~

10 comentários:

  1. Hoje, parece que tudo é efémero. As seduções e as ofertas são tentadoras e mais que muitas.
    Um abraço.

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  2. Bauman chamou-lhe "amor líquido" há quase duas décadas...mas acho que agora já passámos ao estado gasoso:)

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  3. Será que essa leveza, a que Kundera chamou insustentável, é atributo dos novos formatos ou sempre foi assim?

    Não terá a ver com o género em si, em que os envolvidos se desamarram à chegada da primeira nuvem, porque não há tempo para ser infeliz, para ceder aqui ou ali, porque a felicidade pode morar novamente ao virar da esquina ou da tecla.
    Um abraço e um bom fim de semana.

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    1. É certamente um atributo dos novos formatos tendo por base a ideia de que a fidelidade não é possível nem desejável...nem enriquece ninguém, levando ao que no velho formato se chama "traição" e neste(s) não. Outra coisa é o que o Joaquim fala que seria mais correcto designar por amores sucessivos, ou seja quando um amor chega ao fim, perceber isso e partir para uma nova relação ou simplesmente para se ficar só.

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    2. Sejamos honestos, CC, pelo menos connosco próprios, ninguém quer viver sozinho, e quem vive sonha em encontrar alguém, a menos que pela idade ou pela doença, pelos sucessivos desencontros ou inépcia de viver a dois, se resigne à solidão.

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    3. Joaquim, não tenho essa certeza. Ainda este fds viajei com casais e não casais, a maior parte dos casais pareceu-me muito mais triste e rezingão do que os solteirinhos:)

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  4. Existindo, o amor desfaz as combinações; podem até ser promessas mútuas mas, havendo amor há crescimento, e o prometido desaparece, cai, esboroa. Facto que, no caso, seria um bem; outros há em que é um mal. Os tempos não são propícios, porém creio nos que remam contra a maré. Podem ser em menor número, mas existem.

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    1. Eu tenho sempre particular interesse em tudo o que rema contra a maré...mas nem sempre o que parece bom, é realmente. Sem dúvida que remar contra a maré é agora amar uma pessoa a vida inteira. Mas também não deixa de o ser os que em modo alternativo assumem o poliamor. De qualquer modo gosto de analisar estas coisas.

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  5. Há relações que não são naturais nos humanos, nomeadamente no que diz respeito à fidelidade. A maioria do mundo animal vive em fidelidade toda a vida. Bem sei que há exceções, como a dos cães, mas essa exceção confirma a regra.
    Magnífico texto, para ler e refletir.
    Boa semana.
    Beijo.

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    1. Como o Jaime, tendo a desacreditar no amor sem fidelidade, eu pelo menos não conseguiria dividir alguém que amo com outra pessoa. Mas sei de quem vive com outras geometrias e apregoa ser mais feliz assim, e se o é realmente que seja, mas se finge...isso é que não.

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