Sebastião da Gama ficava feliz quando sentia que a aula tinha sido boa e ele uma parte dessa obra. Acho que grande parte do que ele diz é de uma total actualidade. Sinto que a felicidade dele ocorre não apenas pelos alunos se demonstrarem capazes de aprender mas também seres capazes de bondade. Esta segunda parte é cada vez mais omissa, tenho sentido que os grupos são cada vez mais desavindos e competitivos, sem cola que os una.
Quando ontem lhes disse que tínhamos que negociar pois tinha seis locais para o desenvolvimento dos Projectos e muito provavelmente quereriam os mesmos, sabia o que me recomendariam. E assim foi: tirar à sorte. Recusei porque não podemos ceder à sorte a capacidade humana de ouvir, analisar e negociar. E foi difícil, não fora o frio, teria suado. Fiz recuos estratégicos para evitar obrigá-los ao que não queriam colocando outras e outras hipóteses. Por fim, aceitei que um dos lugares não lhes interessava mesmo. Iria tentar duas vagas no mesmo local. De repente um grupo disse que queria ir. Indaguei da razão do recuo. A resposta foi surpreendente: não queremos que fique triste. Que gentileza. Disse que não ficaria, que aceitava. Respondeu outro de outro grupo: queríamos ver como é que a professora negociava, se era capaz, se não nos obrigava. Dei uma gargalhada. Fiquei contente como o Sebastião ficava, tinha ali seres humanos.
Ninguém nunca me irá avaliar por isto, pelo suor da palavra, da negociação e do encontro. A avaliação incidirá em quantos artigos publiquei e se foram ou não em revistas internacionais, mais métrica, menos métrica, algo quo que para os estudantes não tem, nem nunca terá grande efeito. E é por isto que hoje abandonaria a carreira ou nem sequer a começaria, porque a essência está adulterada e perdida.
Se calhar é mesmo melhor um tutor digital para cada aluno. Nesse mundo já não estarei.
~CC~
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