É o meu reduto, a salvação da minha voz, o lugar onde o meu corpo vai buscar a água que não lhe dou. Depois da doença, beber água tornou-se muito difícil, nunca mais voltei a bebê-la como antes, a ciência explica isso muito bem em função dos complexos mecanismos em Y que me deixaram cá dentro. É preciso que a água tenha densidade. Descobri as flores roxas pelos mecanismos poéticos que envolvem a minha relação com o mundo: eram lindas. Depois veio a linguagem, o nome perpétua é simultaneamente estranho e antigo, sou atraída por essas coisas. Só depois chegaram as propriedades, a salvação da voz, a ajuda nas gripes. Um contra: não sabe a literalmente nada. Bebo-o todo o Inverno, combina infinitamente bem com o Natal.
E este Verão aconteceu-me uma coisa muito bonita, coisas que só acontecem lá nas montanhas mágicas. Encontrei por acaso um engenheiro agrícola que tinha estufas e estufas de plantas de todos os tipos, diziam que aceitava mostrá-las. Contudo, chegamos quase ao final da tarde e já não estava ninguém, mesmo assim ele acedeu a mostrar-nos tudo, demorámos muito, muito tempo, tinha um saber profundo sobre cada aromática e cada chá. E tinha notado o meu entusiamo pelos saquinhos de perpétuas roxas logo ao início, quando passámos na loja.
E então mostrou o que nunca pensei ver, infinitas manchas de florinhas todas roxas, magníficas. Depois que também havia perpétuas de outras cores, mas percebeu que para mim essas pouco significado tinham. Pedi se podia fotografar. A minha ideia não era propriamente a de me fotografar a mim no meio delas, apenas trazer aquela mancha florida comigo. Só que ele quis fotografar-me ao lado, no meio delas, eu própria agachada, feita também perpétua. Chamei também a minha irmã. Estamos divertidas, engraçadas, deslumbradas. Um ser humano tão autêntico, tão generoso e um cultivador do meu chá preferido. Saí de lá a cantarolar a canção do Sérgio Godinho: é que hoje fiz um amigo...Mas sei, sei muito bem que não posso andar a plantar amigos sem, na verdade, ter água com que regar.
Mas ficou o lugar no mapa e eu gosto de voltar aos lugares que marcam o meu coração.
~CC~
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