sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Saudades do futuro



Vou dizer-te um segredo agora que estás onde não me ouves.
 
Se voltasses para me contares uma história, colocando-me nos teus joelhos, na sombra do quintal, perdoava todas as ausências que se seguiram à tua presença na minha infância.
 
Agora posso dizer-te sem ter entre nós tantas mágoas. Queria o teu abraço quando me levavas pela rua, esse mesmo de que tinha tanta vergonha quando eu era a filha e tu meu pai. Não sei se é por ser Natal, não sei se é por ser um Natal mais triste do que o habitual, mas tenho mais saudades de ti do que alguma vez tive. Por último, tão débil, esquecido do homem poderoso que sempre quiseste ser, tinhas a mesma voz doce com que vinhas contar-me histórias, esquecido do homem poderoso que na altura acreditavas ser. Sei que tenho pouco a agradecer-te, na altura não se sabia viver entre duas famílias diferentes, nem criar filhos de mulheres diferentes, muito menos com um Atlântico pelo meio. Havia, no entanto, alguma coisa, não lhe sei dizer o nome, mas sei que me fazia sentir especial e que isso me ajudou em todas as lutas.
 
Vais pedir pelo Natal uma comidinha boa com muito picante, com aquele modo trocista de quem sempre fez apenas o que lhe apeteceu. E  vou lembrar-me daquele momento em que fugindo a todas as recomendações do hospital te dei um pão com alguma manteiga cortado aos pedacinhos e de como sorriste, agradecido. Obrigada pelas histórias, pensando bem, se calhar foram elas.
 
~CC~
 
 

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