sexta-feira, 29 de março de 2013

Dormir com Sócrates



No dia Mundial do Teatro fui ao teatro, ou seja, não fiquei a ver a entrevista do Sócrates. Não dei o tempo por perdido, a peça era magnífica (O Deus da Matança).
 
Tentei ver a entrevista depois, contudo, invariavelmente os políticos fazem-me sono, por isso vi apenas uns bocadinhos. Ao contrário de muitos que ouvi por aí comentar, gostei do uso da palavra narrativa. Em Ciência Política, a palavra usa-se para designar um processo de construção de uma verdade. Significa isso que se acumulam coisas para construir um edifício que se segura nelas para se mostrar ao mundo, mas essas coisas não são provas nem factos, são apenas palavras ditas, modos de ver a realidade, números cuidadosamente fabricados. Em suma, a verdade em política é apenas uma narrativa, por isso não há uma, mas várias verdades, que é como quem diz, não há verdade alguma. A narrativa do Sócrates é tão verdadeira como outra qualquer, como qualquer outra que se lhe oponha. Gostar dele ou não gostar já não tem qualquer importância, ele cumpre-se a si próprio e nesse aspecto é genuíno.
 
Todos estes políticos são velhos mesmo quando ainda são novos e envelhecem-nos com eles. Tudo o que há de bom a dizer e a fazer é parte de um outro terreno em construção. Não adormeço em vão, adormeço porque já não me interessa.
 
~CC~
 
 
 
 



2 comentários:

  1. Eu acho que esta sua explicação de "narrativa" em ciência política devia ser largamente difundida. Evitava-se, talvez, muita parvoíce por aí publicada.

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