Eis a coisa que mais faço um ano inteiro: leio.
Leio textos técnicos e trabalhos de alunos.
Leio blogues onde algumas crónicas são realmente bonitas, são sempre bonitas. Qualquer viagem à Natureza do Mal ou ao Novo Mundo é garantida pela prosa dos autores. Descubro às vezes poetas novos ou leio poemas dos mais antigos - há bons blogues de poesia ou poesia em blogues.
Mas não leio, não sinto que leia. Só quando às férias chegam leio três ou quatro livros de enfiada, esperando por esse tempo de ler como uma das coisas melhores que este tempo me traz. Durante o ano ando à tona, no Verão mergulho. Venho depois coberta de letras até ao Outono.
Primeiro empréstimo de Verão: Madrugada Suja, de Miguel Sousa Tavares. Uma abertura interessante para se ir tornando um amontado de lugares banais, despejados numa escrita sem chama. Já todos sabemos o que denuncia, conhecemos aquelas personagens, já enjoámos delas pois há muito que constam dos telejornais. O final quase feliz pretende criar alguma esperança mas não chega lá. Piorou desde o Equador que não li por puro preconceito até pegar nele numa tarde em que não havia mais nada para ler e o livro estava por ali, confesso que gostei e engoli o preconceito do bestseller. Mas neste caso arrisquei e perdi.
Primeiro livro oferecido: Contos da Lídia Jorge. Gosto muito dela, uns contos são melhores do que outros mas é certo o retrato social bem contado. O problema é que como lemos obras magníficas dela (pelo menos três), as outras coisas parecem sempre menores.
Primeiro livro de Verão comprado: Rolando Teixo, de Pedro Bidarra*. Tem um defeito, é muito pequenino e li em dois dias com afazeres pelo meio. Não chegou às férias plenas. É uma história escorreita, bem contada, a escrita não é barroca como na maior parte dos livros de autores portugueses (o único barroco de que gostei foi mesmo do tropical do Agualusa). Dois ou três pormenores fazem a diferença numa história que a princípio também nos parece banal: um homem enredado na sua normalidade sem nada querer ou desejar da vida que não seja essa mesma normalidade. Mas há qualquer coisa que o mata ou que o faz nascer de novo e não é o amor nem um filho nem um projecto, nem nada do que seria de esperar e é essa qualquer coisa que torna a história bonita. Em breve irei à Tapada das Necessidades ver o protagonista do livro :). Arrisquei e ganhei.
Darei conta de mais mergulhos, à medida que aconteçam.
* O autor é um dos tristes que aqui escreve: http://www.escreveretriste.com/
Não é necessário ir à Tapada. Poderemos encontrar o protagonista por aí... Se o vir, digo-te - caso não o reconheças.
ResponderEliminar*jj*