segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Na volta



O meu pensamento viaja no jardim daquele espaço entre o passado e o futuro. Penso como chegámos aqui todos juntos depois deste anos tão difíceis, uns lá mais atrás e outros mais recentes. Penso nas feridas que temos e que nestes dias parecem meros risquinhos na pele. Estamos invulgarmente calmos para uma festa, até as crianças estão mais ou menos tranquilas, embaladas pelos tons de coral escolhidas pelas duas moças. Que parentesco as une? Não sei dizer, já não há nomes para designar todos os laços, era necessário inventá-los. 

Estamos felizes mas não é mais aquela alegria aparvalhada que nos deixava meios histéricos nestes dias. Envelhecemos não há dúvida e com esse envelhecimento também trazemos outra paz aos nossos adolescentes e às nossas crianças. Há tristeza misturada com a nossa alegria. É pelos que não estão, é pelo futuro que anuncia mais partidas em busca de trabalho ou por mera saturação do país que temos. É por medo, eu fico invariavelmente triste sempre que sinto os meus sonhos a fugir-me. Sempre quis ter uma casa onde pudesse abrigar toda a gente, um lugar para a família, fazer uma sopa para todos com os legumes colhidos na horta. E todos juntos é cada vez mais miragem. A casa é cada vez mais miragem, fico a desejá-la sozinha mas não é sozinha que a quero ter.

Penso nesta rapariga sobrevivente que acompanhei à quiomioterapia com apenas 30 anos e como se casa agora na presença de dois filhos, um nascido antes e outro depois. Quando ela disse que este dia parecia um milagre, a outra mana respondeu certeira: se há milagre aqui és tu. 

Esse foi sempre o nosso segredo, sermos a nosso modo e cada um de nós, um milagre. Atendendo a que milagre quer dizer aqui ser uma coisa frágil que resiste a um vento forte, caminha por uma tempestade, deixa-se curvar para se erguer mais adiante.

~CC~




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