Um mar de nevoeiro com muitas gaivotas paradas no areal, ondas grandes a baterem na areia, o som delas a enrolar-se em mim. Bravio este atlântico, tão diferente do meu. É tão perto vir até aqui e não vinha há cerca de vinte anos. Pergunto-me porque gastamos a vida nos mesmos lugares de sempre, até eu que não gosto de rotinas. Todo o mar é o mesmo e é ainda assim um outro, razão mais que suficiente para o espreitar em diversos miradouros.
As ruas pequeninas não têm os mesmos objectos de rotina e não há lojas da moda, prendo-me nos cestos de vime, nos cavalinhos de pau, nas mantas de cores, nos ouriços que são os doces que inventaram para ser daqui.
Não te tenho para namorar e aqui apetece-me mais porque tu e eu em sítios diferentes somos os mesmos mas somos ainda assim outros diferentes. Sonho que um dia sentes e sabes isto e o queres tanto como eu. Amanhã acordo e vou ver este mar na certeza de que o quereria fazer com a tua mão na minha, com um beijo a interromper a vista em comum. Há em nós um encontro cheio de desencontros, eu aqui, tu aí, cada um a fazer o que gosta mas um sem o outro.
De repente tenho saudades de tudo e de todos e até do meu passado, uma vontade enorme de ir até Colares, subir pela praia das Maçãs, parar nas Azenhas do Mar. Ter saudades dos lugares é como ter saudades de uma parte de nós que não queremos deixar morrer, precisamos de ir lá para saber que um dia a nossa essência passou por ali.
Ericeira, terra escarpada no nevoeiro de Novembro, guarda-me.
~CC~
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