domingo, 13 de dezembro de 2015

Ausência



Ausência é o nome da última peça que o teatro o Bando apresenta, creio que a segunda de uma trilogia que retrata o drama dos migrantes, dos que partem, dos que chegam a um lado qualquer e dos que nunca chegarão a lado nenhum.

Não estou aqui para a crítica teatral, embora não me importasse de abraçar tal profissão, tal como crítica de cinema, de literatura, de gastronomia, enfim todas as criticas...eis uma vida com que sempre sonhei, muito embora deva custar ser detestada pelos criticados.

O dispositivo cénico é o melhor, a par do texto. O migrante que é só um ser humano cuja pátria não é representada, tal como ele é uma mistura de vários povos migrantes, leva do seu passado duas bolas grandes que guarda nos bolsos de uma bata. Uma delas é a lembrança e parece feita de terra e a outra é a esperança e parece feita de gelo. Quando ele chega a um lugar é barrado por uma fronteira hipotética, aqui representada por um extraterrestre que lhe diz que só há lugar para uma das bolas e ele tem que escolher, tomar uma decisão. Ele tenta argumentar para levar as duas, transgredir, mas a barreira é poderosa. Acaba aqui a peça.

No fim a conversa, uma das coisas melhores que o Bando tem. Mas ao mesmo tempo lá se vai o que sentimos, é o risco de interpretar. As interpretações dos presentes eram metafóricas, lindas, profundas. A minha era colada à realidade material da coisa, o que podes transportar quando foges? Quando já partimos de um lugar e nos dizem que só podemos levar uma coisa, é preciso escolher. Passei por isso quando tinha nove anos e a única coisa que trouxe do meu passado foi uma almofada, qualquer coisa que uma família que foge da guerra hoje não deveria deixar o filho(a) trazer. Mas eu sou filha de uma família irrealista. Além disso essa família talvez imaginasse que havia uma pátria além daquela em que os filhos tinham nascido. Tudo era diferente e, contudo, há esse traço, essa ferida, ter que partir deixando uma vida inteira para trás, coisas, muito mais que coisas talvez.

~CC~






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