quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Viagem a várias partes de mim


Parei o tempo de tal maneira que ontem queria voltar a trabalhar mas já não sabia, não conseguia. Parecia-me impossível o ritmo a que costumo desenhar cenários e fazer planos, dois e três em simultâneo e em contextos às vezes paralelos, trabalhos vários.

Ainda assim, qualquer coisa se manteve. Romper com os espaços tradicionais das aulas e marchar com eles em plena cidade, levando balões laranja, levantar a voz contra a violência doméstica. Estas outras coisas unem-nos mais e sinto que ganho mais o respeito deles.

Depois, de Sexta a Terça, andar de um lado para o outro visitando amigos em tempos, espaços, contextos e vidas totalmente diferentes. Olhando para essa viagem, é como se cada um desses portos me levasse a uma parte de mim. Um puzzle onde várias peças encaixam quase sempre, às vezes uma ou outra com mais dificuldade. Uma sensação de alegria no final dos quatro dias, apesar do cansaço, um outro cansaço diferente do habitual. Dizia Neruda: confesso que vivi. Sinto isso muitas vezes. Quero por ora tirar o passado do verbo, confesso que vivo, às vezes demasiado intensamente, na ânsia de beber tudo o que a vida me pode trazer.

Satisfaz-me estar tão bem numa casa de luxo à beira rio, soberba num dia de sol (sábado) como na cabaninha de madeira, tudo pequeno e modesto, acordar com uns pingos de chuva (segunda). Satisfaz-me tanto estar com os reputados académicos que festejam a passagem a catedráticos como na pequenina olaria que um amigo tem na serra. Satisfaz-me estar com a velhota que hoje levei à aula e que me falou de amor quase todo o tempo, não obstante dizer que nunca se apaixonou e que é o que mais lamenta na vida, tanto como me satisfaz ver uma criança a brincar, a dizer as primeiras palavras. 

~CC~


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