quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A invenção das datas


Venho de um centro comercial chocada com as montras. Por todo o lado há corações de todos os tamanhos, feitios e texturas, o mau gosto é mesmo imperativo.

Inventaram-nos mais um dia para consumir. E penso porque é que certas datas me merecem ainda algum respeito, ou pelo menos mais respeito que outras. São, por certo, todas inventadas. Mas umas são também importadas como esta do dia dos namorados já que por cá santo casamenteiro só mesmo Santo António. Por certo os restaurantes ficarão impossíveis e as rosas esgotarão. A melhor coisa serão os menus concebidos para o efeito, haja alguma criatividade. Penso como é difícil viver fora desta caixa quando a caixa nos apanha por todo o lado, quando a norma de tão impositiva, acaba por nos influenciar. Uma vez ou outra terei cedido, sobretudo em determinadas ocasiões, felizmente pontuais, em que me apeteceu ser como todos os outros. De vez em quanto sou apanhada pelo desejo da normalidade, do senso comum, da maioria, ou como queiram chamar-lhe. Passa rápido. 

Recordo, contudo, uma vez em Itália, na ponte Vecchio, em que senti um desejo intenso de lá deixar um cadeado. Foi complicado porque na altura não tinha marido nem namorado mas estava a apaixonar-me por alguém que por acaso andava por ali ao meu lado. A beleza da ponte era tão grande como a beleza do rapaz pelo que o encantamento me atou o pensamento. Nunca ouvi tantas missas em latim, era uma coisa barata de se fazer e permitia-me ficar silenciosamente ao lado dele e suspirar para dentro. Nunca houve quase nada entre nós, pelo que o cadeado, certamente, me envergonharia anos depois, pois não seria um sinal de um grande amor mas sim de um devaneio nada merecedor de um cadeado numa das pontes mais bonitas do mundo. Talvez gastasse mesmo uma viagem para ir lá arrancá-lo.


Ponte Vecchio bridge in Florence lit up


Se te pedisse alguma coisa, preferencialmente sem no dia dos namorados, seria outra vez uma farrobinha (vulgo alfarroba bebé) porque com a primeira me encantaste, da segunda não consegui cuidar como deve ser e anseio por uma terceira porque quero ter coisas verdes e vivas perto de mim e preciso de quando em quando de sinais de amor. Já rosas, por favor nunca me dês.
~CC~


2 comentários:

  1. Pois é via...acho que é por quase sempre serem de estufa, ficam em botão e depois morrem, causa-me tristeza. Quando as vejo por aí nos quintais até gosto. E há o roseiral do museu do traje e do teatro, bem bonito...
    De resto gosto de flores grandes, há alguma coisa que combine melhor com amor do que um girassol?
    ~CC~
    ~CC~

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