quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Doenças modernas



Parece que os miúdos deitam álcool nos olhos para a bebedeira ser mais rápida. Parece que os arquitectos decidiram fazer escritórios onde as janelas não abrem mais e as pessoas adoecem porque o ar depende da abertura das tubagens. Não há edifício público no qual se possa entrar sem mostrar documentos, não raro confiscados logo à entrada e não se deixa sair ninguém que não traga o papel devidamente assinado. As pessoas adoecem com o controlo a que estão sujeitas, os que estão dentro e os que estão fora. As pessoas adoecem porque não têm no FB o número de likes desejável para se sentirem amadas. Os formandos, já adultos, perguntam-me se são avaliados também pelo número de entradas na plataforma moodle, confesso que me custou a perceber. Pensava que o moodle era uma coisa prática e boa e não um controlador de entradas.

As pessoas quando ligam às outras, uma coisa rara porque há mails e fóruns para dizer tudo, começam as suas frases por: estou doente, estou cansada, hoje aconteceu-me uma chatice. Depois chegam os amantes das estatísticas e afirmam que as doenças mentais afectam x da população portuguesa, y vive a antidepressivos.  Ficamos a saber, que bom, não nos preocupa muito porque as estatísticas não têm rosto, não são da nossa família, quanto muito algum amigo do FB.

Dá muito trabalho manter-me saudável num mundo doente, qualquer dia adoeço, se é que já não estou.

~CC~




2 comentários:

  1. Ah, ah, digo o mesmo. Uma trabalheira ficar saudável. Quase posso usar, distorcendo um pouco, o Mia Couto: "sou saudável só por preguiça..."

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  2. Não é fácil, não. Não é fácil, quando nos exigem evidências de tudo. Não importa se fazemos e se aquilo que fazemos surte algum efeito. Isso também nos põe doentes.

    Um abraço aqui deste mar de pedras

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