Mais uma manhã na loja do cidadão. Para determinados balcões a fila é de horas, talvez o tempo de espera mais ridículo seja o para receber o cartão do cidadão, esperar horas para simplesmente nos darem um cartão. A princípio corrijo trabalhos de alunos mas pouco a pouco a concentração esvai-se. O motivo maior são os velhotes perdidos, eles não sabem escolher a senha adequada e muito menos percebem a mecânica dos números no écran. Ainda por cima deixaram de dizer os números em voz alta, há apenas uns apitos absolutamente irritantes com uma cadência infernal, uma vez que são indicativos de todos os serviços. Fui ajudando os velhotes em irritação crescente, não com eles, mas com a inadequação do sistema aos mais velhos, com a nula preocupação com eles, com o desprezo a que são votados todos aqueles que não nasceram nativos digitais. Mas não ficou por aí.
Um dos velhotes perguntou-me como é que dali ia para o centro de emprego, queixando-se que era do Poceirão e nada percebia da cidade. Expliquei-lhe que podia ir a pé, era perto. Mas ele não queria ir hoje, disse-me que tinha que ir todos os dias a partir do mês de Maio, por causa do curso. Que diabo pensei eu, curso....dizia ele que era um curso de enfermagem e eu lá lhe expliquei que não podia ser bem isso. Consegui entender que era um curso de primeiros socorros. Ora garanto-vos que este mesmo vellhote não conseguiu tirar a senha, nem perceber como funcionava o sistema de chamada, foi-se colocar ao lado do senhor que atendia, embora lhe faltassem mais de vinte números para ser atendido. Como poderia ele socorrer alguém? É assim o nosso país, obriga-se um assalariado rural de mais de 60 anos a fazer um curso de primeiros socorros na cidade mais próxima que dista pelo menos uns 15km da terra dele. E que curso? Algo que não lhe diz absolutamente nada.
Pobres velhos. Os mais novos não estão melhor, apesar de tanta formação de empreendorismo. Há umas semanas atrás encontrei uma ex.aluna minha, já ia no terceiro curso de empreendorismo, emprego é que nada.
~CC~
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