quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A santa solidária



No Verão, na serra de Montemuro, tomei os pequenos almoços mais demorados da minha vida. Ficávamos entre uma hora a hora e meia sentados à mesa. Não era a comida, embora o sumo de melão fosse delicioso. Eram as histórias da dona da casa.

Sempre gostei das manifestações da religiosidade popular porque estão impregnadas do mais profano que há. Por isso gostei de saber da santa, daquela santa. Se formos à Igreja tristes, ela chora connosco. Se formos à Igreja alegres, ela sorri-nos. Assume as nossas dores, é solidária, amiga. Isto sim é uma santa a sério, não promete milagres, não vende banha da cobra, modifica apenas o seu rosto, a sua expressão, adaptando-a aos sentimentos que trazemos.

Só me fez mais confusão a história de não se deixar despir perante a presença masculina, se há um homem na igreja, os seus braços ficam hirtos e ninguém lhe consegue mudar as vestes. Foi assim que descobriram uns assaltantes que por por lá se esconderam. Mas pronto, é uma santa, só os gregos as deixavam nuas (ou quase) e as chamavam deusas.


~CC~

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