Concluo, com algum desagrado, que a diferença essencial no modo como os serviços funcionam, quaisquer que eles sejam, está nas pessoas. Digo isto com alguma amargura pois a função essencial de que me ocupo há 30 anos é formar pessoas. Com mais desalento ainda porque o doutoramento que tirei é na área das políticas e das organizações, ou seja, não é tanto a nível micro, mais macro, os olhares sobre o sistema. E porquê o desagrado, amargura, desalento?
Neste tempo em sou acompanhada na mesma instituição médica, contactei três médicos, todos homens. Apesar de estarem irmanados nas suas orientações, reunirem em equipa médica, possuírem orgulho em relação ao local em que trabalham, são completamente diferentes.
Ao mais fraco chamo-lhe o boss por ser o chefe do serviço, supostamente o melhor, mais capaz. Até pode ser, mas não na comunicação nem na clínica. As consultas demoram no máximo 5 minutos e ele acaba-nos as frases, do tipo "ando aqui a virar frangos há muito, por isso sei o que vai dizer". Zero de empatia. Ao melhor e também ao mais novo chamo-lhe doutorzinho, parece quase da idade da minha filha e faz clínica a sério, ouve-nos, observa-nos, comunica. Infelizmente só me atendeu enquanto o chefe andava por fora, em congressos, comunicações e afins. Por mim teria feito a troca para sempre mas não tive essa sorte. O terceiro é cirugião e como sabem eles não são seres bem deste mundo. Por isso perdoo as vezes em que baixou os olhos cada vez que me encarou e o esforço que faz para encontrar palavras que não sejam excessivamente técnicas, até dói. Mas embora seja de poucas palavras, deu-me a mão e apertou-a ligeiramente quando eu entrei para o bloco operatório, para cirugião esse gesto já é muito. E quando chegou para me ver depois da primeira operação, começou logo a tirar adesivos, a apalpar-me a barriga, com um à vontade que me deixou tranquila. Tem um outro modo de construir empatia.
Estes três médicos andaram na mesma escola de formação e sabemos que as instituições são coisas que mudam pouco, os dois primeiros devem até ter idades próximas. Também fazem parte da mesma organização. Logo, onde reside tamanha diferença? Isto meus caros não me preocupa apenas pela minha situação particular. Isto preocupa todos aqueles que andam à procura de como as coisas podem mudar. De como podemos influenciar a mudança. De qualquer modo há muito que vou dizendo que não há formação sem transformação e essa, essa é que é difícil. Se a diferença está nas pessoas, como se mudam as pessoas?
~CC~
Convivo com médicos e com cirurgias desde que me conheço como gente. Acho que lhes falta, aos médicos, muita humanidade e saber o que é a "dor". Saber o que é gerir recuperações. Cada ano que passa irritam-me mais quando me tratam com indiferença (ou à minha mãe). Confesso que já pouco tolero e agora digo. De forma educada, mas digo. Este ano disse ao cirurgião que me operou, que era um excelente médico em termos técnicos mas que lhe faltava pensar nas pessoas como pessoas. Disse-lhe isto antes de me adormecerem para a cirurgia. Fez-se um silêncio no bloco.
ResponderEliminarHá muito a mudar, especialmente na forma como lidar com os pacientes e "descer" ao nível destes quer ao nível dos termos médicos quer ao nível das emoções.
beijinhos grande :)
É uma bela questão, CC...
ResponderEliminarJá agora, pode enviar-me um email para unicaluzdomundo@sapo.pt, de modo o ficar com o seu? Tinha-o no thecatscats@sapo.pt, mas a conta foi encerrada e perdi-o.
é uma questão de humanidade. nem todos a têm.
ResponderEliminarbeijo, CC