A tendência dos outros para nos desapossar da nossa vontade em situações em que nos sentem frágeis é muita, ainda por cima com a benesse de que as suas intenções são boas e disso ninguém duvida. Que o digam os velhos a quem teimam tratar como meninos que não sabem decidir o que querem.
Vivemos mais ou menos entalados entre as ordens dos médicos, a vigilância da família, os milhares de conselhos dos amigos. Sinto-me muitas vezes quase como refém, alguém a quem está a ser vedado o pensamento, a vontade, a autonomia. Tudo me é recomendado, desde o creme para a pele ao que hei-de beber, quem consultar, que medicamentos tomar. As ordens e conselhos são provenientes de muitos lados e como tal nem sempre coerentes, às vezes fico confusa. Acresce que, pelo facto de precisarmos deles, isso nos deixa numa vulnerabilidade grande, muito mais susceptíveis a sermos manipulados. Metade ocorre sem que os próprios tomem consciência do facto de que nos passaram a tratar como crianças e não como adultos inteiros, e é isso que somos apesar de estarmos doentes. Mas as relações que se baseiam no poder sobre o outro e não na igualdade, que não reconhecem ao outro o direito de escolha e de saber o que racional ou irracionalmente é melhor para si, constroem sombras e não luz.
E luz, como eu preciso de luz!
~CC~
confronto-me com essa realidade quando querem que eu obrigue a minha mãe a ir ao médico, a esta ou aquela especialidade, fazer exames que ela não quer. fico sempre entre o dedo apontado pelos outros e o respeito pela vontade dela, que vence sempre, o segundo.
ResponderEliminarsei, contudo, que a maior parte das pessoas age assim por bem :)
CC, acredito que as pessoas ajam assim com boa intenção , mas é uma boa intenção não amadurecida, ingénua.
ResponderEliminarTambém me acontece dizerem-me que o fazem/dizem (ou não dizem e só mais tarde o confessam) por quererem o meu bem, e eu não gosto que tentem antecipar-se ao meu processo de decisão ou que tomem medidas sobre o que me diz respeito sem me dizerem, tudo em nome do bem, que eu afinal nem sei/soube, que posso não entender ser o meu bem, que posso não concordar e por isso nada agradeço, porque não me identifico com essa forma de estar e de proceder.
E sim, isso tem subjacente a vontade de exercer poder sobre o outro.
Um equilíbrio difícil, entre o bem que se quer e a invasão da vontade própria.
ResponderEliminarAna, com os mais velhos é muito difícil o equilíbrio, mas o que tenho visto por esse país fora, sobretudo em instituições como centros de dia e lares raia o zero de respeito pela identidade do outro.
ResponderEliminarIsabel, nem mais...
Luísa, difícil, mas a procurar...
Abraços três.