domingo, 8 de outubro de 2017

O factor P



Há um barzinho junto à partida dos barcos, junto ao rio. Foi lá que parei depois da caminhada, após semanas sem me mexer para além das lides domésticas e das aulas. Pedi um sumo de fruta natural que veio maravilhosamente apresentado num copo alto, com uma palhinha preta comprida e um pedaço de fruta seca por cima. Paguei dois euros e cinquenta pelo sumo, cuja quantidade era tanta, que tive que beber devagar.

No dia a seguir, numa das praias populares da região, também queria um sumo natural, mas o preço de quatro euros ou quatro euros e meio demoveu-me. Pedi um sumo de garrafa. Paguei por ele dois euros e cinquenta, o mesmo que tinha pago no dia anterior, pelo belíssimo sumo natural. Olhei para a praia de sempre, linda, para a Arrábida ao fundo, para o mar tão azul, pensei que a paisagem não devia ser cobrada no sumo, é um bem colectivo.

No dia a seguir, num jardim recentemente requalificado e num café também novo, bastante bonito e agora muito bem frequentado, o mesmo sumo de garrafa custou-me um euro e cinco, exactamente o valor que pago na cantina da escola. Não incluíram o lago e os cisnes brancos no preço, nem as crianças a brincar. 

Cobrar a beleza dos lugares de tal modo a torná-la inacessível ao cidadão comum, reservando-a para os com mais posses, para os turistas, para os afortunados da vida, é uma coisa que me repugna. E por ora isso depende apenas da moral de cada um, da pessoa que mora em cada empresário. O lucro fácil está em reedição.

~CC~







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