quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Foi a 14



Faz um ano.

Exactamente neste dia, um pouquinho mais tarde.

Lembro-me que também pingava e estava frio, não tanto frio assim, não tanto como neste Inverno.

Brincámos com o quarto que parecia o de um hotel e tinha uma bela vista para o Tejo. Alternava medo e confiança, alegria e tristeza, num carrossel de emoções. A enfermeira indicou que tomasse alguma coisa para dormir e assim fiz. Sentia um peso cá dentro.

A minha filha ficou comigo nessa noite e ainda a vi na manhã seguinte, lembro-me daquela sensação fria da entrada para o bloco, de a ver ficar para trás, de pensar o quanto gostava dela e dele.

A pessoa que entrou naquele dia naquele hospital a que saiu ainda sou eu mas um eu com a experiência de quase morte, com a memória daquele tempo, longo tempo de dor e incerteza.  Diz o ditado que o que não nos mata nos torna mais fortes, não sei, acho que não. Trago comigo a consciência da minha fragilidade, a noção de que o tempo não se pode medir a longo termo, o querer pouco e uma coisa de cada vez.

E ainda por cima inventaram que este era o dia dos namorados, logo um dia pouco provável para dar  entrada num hospital. Do dia seguinte pouco recordo, a operação demorou dez horas. Eles recordarão para sempre a angústia da sala de espera, eu para sempre ter ouvido falar da angústia deles. 

Faz um ano, deus meu, que longo ano foi este, parece uma vida.

~CC~








6 comentários:

  1. uma passagem para uma nova vida. que seja boa, CC, e longa.
    beijo

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  2. CC, também não sei se o que não nos mata nos torna mais fortes. Talvez sim, se atendermos que a consciência da fragilidade é um sinal de que se é forte.
    Que venham mais anos cada vez mais distantes deste, no que respeita a apertos com a saúde.

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  3. Um dia 14 de difíceis memórias. Que passem muitos mais dias 14 de fevereiro, e a cada um que passe, mais diluída seja a dor, mais forte a vitória.

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  4. Gosto tanto de ti, mesmo sem te conhecer!

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  5. Olá Ana, Isabel, Luisa, Laura e Ana A.
    Desculpem só agora responder e agradecer as vossas palavras de estímulo, agarrei nelas e fui fazer um fim de semana de namoro mãe e filha, e foi ela a guia:) E pensei mais uma vez como foi bom viver para chegar a este fim de semana, como será bom viver para um outro assim ou parecido...
    Abraços cinco.
    ~CC~



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