sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

O amor é burro e não vem com anti-vírus



O amor comporta inevitavelmente uma boa dose de burrice, de cegueira do que é óbvio, ou talvez seja só generoso. 

E se o amor conjugal (que não lhe quero chamar entre sexos diferentes pois podem ser do mesmo) pode comportar essa maravilhosa dose de generosidade, o amor filial bebe (quase sempre) nele às colheradas. Por isso os filhos nunca nos pegam nada do que têm, por mais contagioso que seja, nunca deixamos de os pegar ao colo, de entrar no quarto deles, de lhes levar uma sopa, de os levar connosco no carro. Num primeiro momento até nos julgamos imunes, faz parte da inconsciência afectiva, depois, aos primeiros sinais do contágio, sabemos só que era inevitável, que não podia ser de outro modo. Infelizmente não é possível integrar no ADN do amor um anti vírus potente, capaz de salvaguardar as mães e os pais, tornando-os capazes de fazer canjas de galinha até ao fim, sem sucumbir.

E desta vez foi assim que uma maravilhosa viagem a São Tomé se transformou primeiro numa viagem a Córdova e uma viagem a Córdova se transformou depois num sofá partilhado numa sala pequenina, com toneladas de lenços de papel, enjoos, tosse e noites mal dormidas. E só o amor permite atenuar essa tristeza, matizar o mal estar, procurar ainda algum riso, pois só ele tem essa infinita generosidade... ou burrice.

~CC~






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