Eu e esta casa estivemos sós durante muitos dias neste último ano e meio. Contei pelos dedos das mãos as vezes em que jantei ou almocei aqui com alguém. O mundo abria-se sobretudo por um écran, primeiro com gosto, depois com cada vez menos. Cheguei a um ponto que quase odiava ter que levantar a tampa do portátil.
Nestes últimos dias abri a porta várias vezes, entrou aqui mais do que uma pessoa. Abracei-as, perdi o medo dos abraços
Depois as pessoas vão e a casa ainda lhes guarda memória e gosto de a sentir assim.
Ainda há alguns amigos que me falta abraçar, anseio fazê-lo, preciso de ter a certeza que não os perdi com a pandemia. Não sei se as pessoas já se permitem fazer saldos ao que perderam ou ganharam. O meu saldo é ainda incerto e não sei se algum dia o acertarei.
~CC~
Está viva, não está CC? Então só pode ser positivo. Os amigos, se são verdadeiros e se também vivem, hão-de voltar. Quanto a nós, nada mudou, cá continuamos ligados pela ponta dos dedos, atados às palavras, umas vezes trazidas pelo coração, outras pela razão. Continuamos juntos.
ResponderEliminarMas nas famílias parece que algo mudou realmente. O meu cunhado, que por inerência da profissão foi dos primeiros a ser vacinado, prometeu que quando a família estivesse toda vacinada, iria organizar um jantar, para o qual já comprou umas garrafas de vinho (branco e verde para as senhoras apreciadoras) e até champanhe.
Creio que vai ser uma noite pomposa, a coisa promete.
Eu que já sei o que a casa gasta, prevejo que a noite vá acabar com uns a rir e outros a tornarem-se sentimentais, segundo os temperamentos.
E depois, vamos falar todos ao mesmo tempo, outros vão cantar, vai ser um barulho ensurdecedor, mas o mais importante, disso não tenho qualquer dúvida, é que nos vamos, finalmente, todos abraçar. Até lá vou esperando e começando a duvidar, pois nunca mais acontece...
Quanto ao trabalho, parece ser onde a opinião mais diverge. Os mais novos sentem a falta do contacto social físico, os mais velhos dizem que o tele-trabalho lhes permite ficar de chinelos em casa o dia todo com a família. Depois há o lazer, e esse sim todos o perdemos definitivamente - e foram quase dois anos!
Estou viva sim mas houve coisas que morreram dentro de mim e não só de mim. Ainda há réstias dessa tristeza a pairar sobre os dias e às vezes mais nas noites. Mas há abraços vivos também e alguns ainda por dar.
ResponderEliminarNão perca a oportunidade de dar esses abraços, são uma tábua de salvação.
~CC~
Digamos que a net me salvou durante esse tempo malvado de pandemia e prisão domiciliária. Aprendi, sem novidade, os limites das minhas amizades, mas fiquei na mesma ligeiramente decepcionada. Apesar da máxima, "interessa mais o amor que se dá do que o que se recebe", os tais limites me caíram-me na fraqueza. E sim, tenho um ou outro abraço por dar a umas medricas palermas que talvez nem o mereçam (que mazura). Li mais do que costumo e vi muito filme que esqueci de seguida. E gastei-me num ror de saudade. Quero mais é não pensar nisso.
ResponderEliminarA NET a mim só me afogou, aulas e reuniões de manhã à noite, às vezes quando dava conta já era noite. No amor e na amizade é preciso reciprocidade, é verdade que não é fazer as contas de merceeiro a quem mais comunica ou aparece...mas temos que sentir, sobretudo sentir que ir ao encontro do outro não é apenas coisa de uma parte. Venha o futuro:)
Eliminar~CC~
Que boa, ainda que breve, reflexão sobre o deve e haver da amizade em tempo de (ainda?) pandemia.
ResponderEliminarGostei do que fica das pessoas quando partem.
Eu também já comecei a aproximar-me mais, embora haja sempre receios.
Um bom dia, CC
Dolores, os receios vão demorar a desaparecer...reparei que (quase) já ninguém manifesta intenção de dar dois beijinhos.
Eliminar~CC~