O riacho eu atravessava com grande facilidade, até me sabia bem uma pedrinha ou outra no caminho, num instante alcançava feliz a outra margem. Com o rio a tormenta era um pouco maior, mas com os pés no chão, a correnteza não me atrapalhava o suficiente, até me estimulava. Com o mar tudo se tornou diferente, às vezes tentava mas a meio desistia, mesmo quando fui buscar um barco para alcançar a outra margem, o esforço dos remos cansava-me tanto que não conseguia apreciar o lado de lá. Quando se tratou de atravessar o oceano, bem sabia que podia apanhar um navio, mas era demasiado longe, demasiado esforço, para além de que do lá de lá já ninguém sorria e acenava a incentivar-me, apenas havia uma sombra, difusa na paisagem.
Agora deixo-me ficar aqui em terra, sem travessias, horizontes ou chamamentos.
Faço café de cafeteira e aconchego-me. Talvez envelheça.
~CC~
Partindo do princípio que o amor comanda a vida, poderei então deduzir que também as travessias, essa busca da outra margem, são comandadas pelo amor. Amor a quê?
ResponderEliminarEm O Banquete de Platão, Sócrates refere que, sendo o Amor, amor de algo, esse algo é por ele certamente desejado. Mas este objeto do amor só pode ser desejado quando lhe falta e não quando o possui, pois ninguém deseja aquilo que já tem.
"O que deseja, deseja aquilo de que é carente, sem o que não deseja, se não for carente."
E foi isso que ficou por dizer neste seu post e cuja resposta ultrapassa a minha propalada imaginação.
"ninguém deseja aquilo que já tem"...sei que não só é ideia comum como vivência comum. Mas eu não a partilho, por duas coisas: a9 desejo o que tenho, a segurança e a confiança aumentam a minha ligação a alguém e para isso necessito de tempo; b) nunca temos realmente nada, muito menos alguém.
Eliminar~CC~
Agora fez-me lembrar um poema do Al Berto...
ResponderEliminarE, por favor, não procure o dark side of the moon, okay?
🤗
PS: se ainda não foi à deep, vá e leve a ana...
Maria, fique descansada, se procuro alguma coisa é sol:)
EliminarEu já lá fui agradecer mas ela ainda não publicou.
Beijinho
~CC~
Tanta travessia, não é, CC. A bem dizer estamos sempre a atravessar mares, rios, regatos e até poças de água que a vida nos põe à frente. Ela e nós mesmos. Mas cansa. Efectivamente. Deve ser também por isso que se morre. Que nem h+a certeza de águas calmas. E tem gente fadada para tempestades caudalosas. Mas a cada um suas correntes e seus trabalhos. Um título de que sempre gostei diz isso mesmo: "Os Trabalhos e os Dias", teogonia de nome espectacular.
ResponderEliminarNote que ver a outra margem nem é tão mau. Há quem o não consiga, faltam-lhe os olhos ou os têm doentes.
Bea, também gosto desse nome...e das "correntes e os seus trabalhos":)
EliminarObrigada por vir e resto de bom fds
~CC~
Mesmo ficando em terra, há travessias possíveis. Ainda que diferentes do que eram.
ResponderEliminarBom fim de semana.
Talvez um trilho sim:)
EliminarBeijinho e obrigada Dolores.
~CC~