domingo, 14 de janeiro de 2024

A planta carnuda de Z.

 


Está ali a crescer a olhos vistos a planta que Z me deu para a tosse. Foi muito clara: as folhas são muito carnudas, esmaga-as com um garfo e recolhe a seiva que delas escorrer e depois toma-a como se fosse um xarope. Já lá vai um ano, sei que foi nesta data por ter trazido Z a uma aula minha com a mesma temática que ontem leccionei, desta vez sem a sua presença e senti-lhe a falta. Z nunca foi à escola mas sabe tudo sobre plantas e aprendeu a fazer contas vendendo-as no mercado. A sua estufa é construída com paus e bocados de plástico e alberga mais de 50 espécies para todas as maleitas, com o cultivo e venda de plantas alimentou três filhos.

Nunca fiz o que Z me recomendou mesmo tendo tido tosse e vendo outros amigos e familiares com tosse. Não o fiz porque a minha conexão com a natureza não é a mesma que a dela e tenho receio de apanhar coisas e comer, sem lavar e esfregar para que brilhem como as que aprendi a ver como comestíveis no supermercado ou dentro de xaropes. Fico ali a olhar para a planta como uma espécie de adorno, enquanto Z as ama mas sabe cortá-las, esmagá-las, espalhá-las sobre a pele, os olhos, torná-las gotas, seivas e remédios.  É dela a sabedoria e eu sou só uma má aprendiz. 

~CC~


2 comentários:

  1. Aprecio estas suas crónicas sobre assuntos comuns. Activa a nossa atenção para o que nos rodeia.
    Um abraço.

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    1. Nas coisas mais simples reside por vezes muita profundidade e vice versa. Um abraço

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