sábado, 6 de janeiro de 2024

Elevador para um e (talvez) um cão

 

Cumprimentei os vizinhos, embora me parecessem recém chegados, em geral conheço quase todos. Abrimos em conjunto a porta do parqueamento que dá acesso ao elevador, eu primeiro, cedi-lhes passagem e chamei o elevador. Eles mantiveram-se a quase um metro do elevador, sorrindo com simpatia mas mantendo aquela distância física. Quando o elevador chegou não se mexeram, perguntei-lhes se não queriam subir. Mas podemos?! Podem, claro! E enquanto subíamos foram contando que as pessoas agora preferem andar de elevador sozinhas e aqui mesmo no prédio já lhes disseram isso, então eles nunca se aproximam. O elevador é grande e dá para quatro pessoas bem pesadas. Será que foi isto que nos sobrou da pandemia? Ou já antes preferíamos a companhia dos cães à dos humanos, como é agora tão frequente acontecer? 

Os animais domésticos são servis, obedientes, dependentes, não contestam e gostam incondicionalmente dos seus donos. Parece-me que os seres humanos têm cada vez mais dificuldade em viver em relações em que estas premissas não existem. Acabamos no elevador para um ou para um e o seu cão.

~CC~

6 comentários:

  1. Reconheço no seu texto essa atitude comum.
    Um abraço.

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  2. Bonito post, CC.
    Este isolamento social, em que cada um está cada vez mais, por sua própria conta, vai dar cabo de toda a sociedade, principalmente do solidarismo tão próprio da nossa comunidade.
    Vivo numa aldeia em que nos cumprimentos e falamos um pouco quando nos encontramos na rua. Quando vou à cidade sinto essa diferença.
    Bolas, somos pessoas, seres humanos, iguais, com defeitos e virtudes.
    Sim, tratar bem os animais, fazem parte disto tudo.
    Mas trocar o cão por gente, porque é mais fácil, só nos isola perigosamente como sociedade.
    Nunca pensei assistir e ter um partido político para os animais, na assembleia da república, que defende, imagine-se um hospital publico para os cãezinhos e gatinhos…

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    1. As pessoas dão muito mais trabalho que os bichos. E há quem não queira se dar a esse trabalho.

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  3. O único elevador que frequento é de facto pequeno - há outro um pouco maior mas a lentidão com que se arrasta bole comigo. Só uma vez convidei uma pessoa para ir nele. Resposta imediata: não, não; eu não entro nesse elevador. De modos que sou pouco versada no assunto. Mas há muito noto haver pessoas que preferem os animais. Terão as suas razões. Desconfio é que os animais não contrariam, não respondem, fazem sempre o que os donos querem e gostam deles incondicionalmente. Concluí que muita gente gosta de ser dono e dominar. É sempre o poder. Ou quase sempre. Desde as formas mais imperfeitas às mais sádicas e refinadas, algumas mesmo assassinas.

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    1. Aí está Bea, as pessoas dominam-se pior. E há quem não goste desse desafio, cada vez mais...

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