Olha que engraçado, ainda se pede lume...fiquei tão estupefacta com o pedido que nem sabia o que responder, talvez por nunca ter fumado.
Lembrei-me da minha infância e do meu pai, dos seus rolos de fumo no ar, uns atrás dos outros, aros que por vezes eu furava com os dedos, era tão belo aquilo. Da tentativa do meu pai para ensinar a minha mãe a fumar, pois as mulheres belas e finas faziam-no. Dos cigarros dos meus professores nas aulas na licenciatura de Psicologia, como se deles precisassem sofregamente para o escrutínio do nosso interior. Do meu primeiro grande amor com um beijo sempre a cheirar a fumo, que só por paixão eu suportava. E do cigarro da minha amiga, quase sempre apagado depois de duas ou três passas.
Hoje que tanto sabemos sobre o seu malefício, que dores os levarão a buscar aquele apaziguamento. E tenho mais compaixão do que zanga, mas isso ocorre-me em quase tudo, espero que a idade não me leve toda a indignação.
~CC~