terça-feira, 15 de outubro de 2024

Lisboa que desaparece

 

As cidades transformam-se perdendo mais e mais identidade, num movimento que parece impossível de travar. Um lugar torna-se sucesso mesmo sendo originalmente um território de armazéns fabris meio feio, é transformado em restaurantes, lojas de design e de moda. Do que ele era não sobrou um pequeno museu, uma homenagem, uma memória, tudo se varreu. Mas logo noutro ponto da cidade acontece exactamente o mesmo, e são os mesmos armazéns, a mesma lógica, quase as mesmas ementas. São também pessoas muito semelhantes os clientes, gente jovem de classe alta ou média alta, já seguros na vida ou desde sempre seguros.

Se fechar os olhos e os abrir de repente não sei onde estou, circulam empregados de origem asiática que mal falam e percebem inglês e muito menos português, mas sorriem sempre apesar dos seus olhos permanecerem tristes. As cervejas têm que ser artesanais, tem que se comer pouco ou não mostrar grande apetite e os pratos desiguais, assim como as cadeiras ou os bancos.

Fui a convite mas não já consigo sentir-me confortável nestes lugares. A minha Lisboa desaparece aos poucos.

~CC~


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