domingo, 27 de fevereiro de 2022

Pela Paz, sempre!

 

Sim, também estou triste, muito.

O que dizer mais quando parece que tudo já se disse e mais de metade foi excessivo, inadequado e padecemos de um ruído que nos torna quase incapazes de racionalizar o que quer que seja?

Abomino a guerra, esta e todas as outras que se vão passando no silêncio do mundo. Eu nem acredito que os exércitos sejam um instrumento de paz, como tantos defendem. Todo o dinheiro que aí se usa é mal gasto, sou pacifista até à medula.

Repito, estou triste e muito.

~CC~

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Das vidas outras (II)

 

Um domingo. A estação de comboios da cidade está quase parada, talvez por isso reparo neles.

Quinze anos talvez.

Saem de mãos dadas, dois adolescentes comuns, modestamente vestidos, nada que os distinga. Mas na saída ele pede-lhe que rode sobre si própria, numa pirueta de bailarina, ela nem saia tem, mas as calças de ganga parecem voar, assim como os cabelos. E ele apanha-a depois da pirueta e agarra-a num abraço e depois num beijo inclinado, à filme.

Que belos quinze anos.

~CC~


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

De mim

 

Tanto tempo para conseguir esta infinita sensação de liberdade. Não foi fácil despir-me das amarras pois há nelas também conforto e segurança.

Não fora o peso do trabalho e seria finalmente o pássaro ou o golfinho, inspirando o ar para sorrir a cada volta pela curva da nuvem ou do rio.

~CC~

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Das vidas outras

 

Todos têm o telefone dela e sabem que podem ligar. Disseram-no tantas vezes que me impressionaram.

E ela parecia uma menina frágil, um olhar tímido e doce, cara lavada, roupa de conforto, voz calma.

Mas houve um momento que me olhou nos olhos e senti-lhe a força.

Que falta fazem estas lideranças sabiamente democráticas.

Espero que ela tenha a quem ligar também. Até os bons lideres, ou sobretudo esses, precisam de uma mão no rosto, uma brisa suave.

E vai tão mal o mundo cheio de homens que na liderança são o contrário do que esta mulher é.

~CC~



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

A mais bela

 

Digam lá se não é a mais bela canção de amor de todos os tempos. Se não, digam...digam lá que outra. Vai em versão masculina e feminina, não consigo saber de qual gosto mais.




Este dia.

Faz cinco anos e isso dá-me vontade de chorar. Mas devia era ser Suzanne e rodopiar, inventando outra vez a vida, essa que ganhei quando podia ter perdido.

~CC~




domingo, 13 de fevereiro de 2022

Nossos irmãos

 

A escola situava-se na margem sul, não muito longe de Lisboa. A turma era constituída por 70% de crianças oriundas do Brasil ou, se nascidas cá, com sotaque vincado do português do Brasil. Decifrar um pequeno texto do manual do 4º ano demorou mais de uma hora, as crianças não entendiam metade das palavras que ele continha. A professora era paciente, explicando cada palavra, ainda que o método fosse tradicional, era ela que explicava tudo. Os miúdos eram óptimos, queriam mesmo entender tudo. Pensei na minha bolha e em como cada um tem uma. Não supunha a existência de tal realidade, não com aquela força. O que se terá passado para esta nova vaga migratória ter tomado tal força? Houve um tempo contrário, talvez há cerca de dez anos, em pleno tempo da Troika,  já erámos nós a ir.

Lembrei-me como há tantos anos atrás um pedido de uma torrada e um sumo de laranja tinha, no Rio de Janeiro, deixado o empregado a olhar para mim atónito, como se eu tivesse falado Francês. Eu que cresci na grande vaga das telenovelas brasileiras e que mesmo sem ser grande fã, também vibrei com algumas personagens, entendo tudo o que dizem. Não sei em que momento nos deixámos de perceber, de nos atrair, de nos querer, mas tenho a estranha sensação que isso aconteceu, não obstante estas vagas para cá e para lá do Atlântico. Usámos a palavra irmão e agora parece que ela não desperta na nossa boca, muito menos chega com o sorriso de antes.

~CC~




quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A frase agarrada a mim

 

Não vos acontece uma frase, um título de um livro, uma palavra andar agarrada a vós, infiltrando-se em tudo?!

Está a acontecer-me com "O tempo, esse grande escultor". E creio que não é pela escritora, que li, sem me deslumbrar. A frase é que é magnifica.

Embora esse escultor que é o tempo teime em esmagar-me. Não pelas rugas, pela deformação do corpo, pelo esgotamento da energia...é mais por me faltar em horas e minutos a cada dia que finda. As longas listas de coisas em que só em metade marco um certo, a indicar que está feito. A vã promessa a cada ano que não será assim. Um dia conseguirei. E esta frase não andará agarrada a mim, será outra, mais leve.

~CC~


sábado, 5 de fevereiro de 2022

No escurinho do cinema

 

Tenho praticado pouco este bom escurinho.

Mas no último domingo passei a tarde num escurinho destes mesmo que não seja bem um cinema. Trata-se do ciclo: um pintor, um filme. O filme da matiné era "Seráphine".  Para quem acha que a arte só nasce em determinadas classes sociais e o estilo se adquire no trabalho com os mestres, esta mulher é um exemplo do contrário. Trata-se de uma mulher só, muito pobre, já na meia idade, uma criada a servir em casas de campo. Pinta talvez para não enlouquecer e falar com os anjos e depois enlouquece por pintar, pela pintura lhe ter derrubado os muros que a continham. A actriz é de uma excelência tão grande que para mim ela é aquela mulher, não a imagino a fazer outros papéis.

Para quem tem plataformas de filmes, pode encontrá-lo com facilidade e passar com ele uma bela tarde ou noite. 

Fiquei com muita vontade de usar finalmente os lápis que me deste, levá-los para o campo e traduzir estevas em telas.

~CC~




quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Tanta saudade

 

Aquela fase do cansaço extremo, trabalhando de sol a sol, como uma formiguinha. Tantas saudades do mar.


~CC~

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Talvez ler-te um poema...

 

Eras de Direita numa escola de Esquerda, eras Católico numa escola predominantemente Ateia. Disseram-me para não gostar de ti e disseram-te para não gostares de mim. E, contudo, como me recebeste bem, como me amparaste, ajudaste e me deslumbraste com o teu modo de ser e de dar aulas. Gostámos afinal um do outro, livres de estereótipos e de intrigas. Senti a tua falta quando pediste a reforma no tempo certo mas sei que não paraste, que andavas para lá e para cá entre Cabo Verde e Portugal, por certo cativando alunos.

Há cerca de um mês pedi o teu telefone, não cheguei a ligar e agora já não o posso fazer. 

Quando for à Meia Praia, mesmo sem saber rezar, hei-de falar contigo, talvez ler-te um poema. 

~CC~