domingo, 27 de novembro de 2022

Rochas

 

Lavei os olhos, cheios de cansaço, na serra e na água límpida do mar.

Ao meu lado o teu sorriso, esse beijo leve, que bom é termos feito a transição para esta amizade, não sem dor, não sem passado com tudo o que teve lá dentro de bom e mau. Havemos de conseguir.

As nossas pessoas, essas rochas em que nos abrigamos.

~CC~

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Só isto

 

Enrolo-me neste silêncio húmido, sabe-me tão bem ser um animal com concha. São demasiados os momentos em que tenho que viver sem ela, tão despida e com tanto vento.

~CC~

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Ontem, hoje e amanhã

 

É tão estranho ver as mesmas reivindicações sobre o ambiente em que eu militava quando eu era jovem, as mesmas palavras de ordem, a mesma indignação. Pouco mudou realmente. A única coisa distinta é que hoje há separação de lixos, mesmo assim pouco sabemos sobre a eficácia da medida em termos de protecção e defesa do ambiente. Também inventaram mais energias renováveis, mas estas são rapidamente denegredidas antes de ser afirmarem como alternativa coerente e consistente ou são inacessíveis ao ordenado do cidadão médio. São obscuros os meandros da ciência e das soluções. 

Entre o vulgar cidadão e os grandes grupos que lucram com a economia do petróleo há um traço comum. Eles acreditam que não vão voltar a este planeta, por isso o que lhes interessa é viver o presente, no caso dos primeiros com o máximo conforto, no caso dos segundos com o lucro máximo . As pessoas não se importam com o futuro porque o futuro é uma coisa longícua, para gerações que não conhecerão. O futuro que se desenrasque a si próprio. Para eles a crise climática é sempre para um tempo algures ou uma invenção de almas pessimistas. Recusam-se a ver os fenómenos que já estão a acontecer como provocados pela mão humana sobre o ecossistema terrestre. Talvez se os convencêssemos que afinal há mesmo reencarnação e voltarão para viver num sitio maldito, escuro, feio, sem água, onde o dinheiro de nada valerá. Eu que sempre achei que a vida acaba com a morte do corpo, dou por mim a pensar em pedagogias estranhas pró ambiente como convencer as pessoas que  não há vida para além da morte e, se houver, é para voltarem aqui e passarem as passas do Algarve, que também elas habitarão esse futuro negro já que com os seus netos pouco parecem importar-se.

Já agora, tantos anos depois, como é que um director de uma faculdade chama a polícia? 

~CC~



sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Espantos

 

Desde a adolescência que não voava assim...em sonhos, claro.

Acordei a meio da noite espantada com a sensação, aquela vertigem de ver tudo lá do alto e planar. Mas também me adverti quanto a este regresso aos meus 14 anos. Resultado: continuei a sonhar o resto da noite que voava...mas de avião. Ainda dizem que o super-ego é só uma invenção do Freud.

~CC~


sábado, 5 de novembro de 2022

Cabo Verde no mapa do mundo

 

As lágrimas ocorreram em determinados momentos do documentário. Cesária Évora, tudo a fadava à miséria, nada a estrela da música mundial, coisa que alcançou já depois dos 50 anos e após 11 sem sair de casa, fechada no seu mundo, na sua cabeça. Uma mulher que não suportava sapatos por ter os pés cheios de cravos desde pequena (não, não era uma questão de estilo). Uma voz que vem da terra e é o mar inteiro.

O seu Mindelo pequenino do tamanho do mundo inteiro, Cabo Verde finalmente um país que deixou de ser mudo e invisível.

Obrigada Cesária, por no teu regresso à terra, estar à tua espera uma cachupa e não qualquer outra coisa trazida da cozinha francesa, lugar primordial que te deu guarida (nem disso nos podemos nós gabar).

~CC~