terça-feira, 30 de junho de 2020

Saudades



Tenho tantas saudades destas noites assim

https://mutante.pt/2020/06/jazz-na-real-vinicola/

Que pena ser tão longe, não consigo estar em locais fechados, mas um jardim arriscaria.

Estou cansada das noites interiores.

~CC~

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Essa dupla...



Acontece-vos um azar não vir sozinho?

Não soubesse eu que os ditados populares estão tão cheios de verdade quanto de mentira e acharia que tudo se justificaria por tal. Nunca fui uma adepta da palavra Domingo, se calhar foi apenas isso.

E a sorte, essa virá sozinha? E o que será? Apenas o número do euromilhões? Creio que não, para mim chegaria a luz do carro com sinal de avaria apagar-se, assim do nada como chegou. Chegaria encontrar o par de um brinco. 

Chegaria tudo correr bem com ela hoje, exame presencial depois de um mês inteiro de estudo. Mas a acontecer já não será apenas sorte, é resultado do esforço, do empenho, da persistência. 

Não posso, contudo, desdenhar completamente a sorte, apenas não sei defini-la bem, nem ao azar. O fortuito existe, o que não controlamos inteiramente, o que não sabemos como acontece, porque acontece. E a um sinal menos, até é possível juntar um sinal mais. Por exemplo, ela caiu este fim de semana e eu tinha saído por breves momentos, um susto imenso, quedas aos 92 podem ser graves. Um azar. Mas conseguiu manter-se lúcida, telefonar-me, ficar consciente, ainda limpar o sangue que saía da ferida. Consegui ter sangue frio, fazer o que era preciso, não costumo ser muito boa nestas coisas, mas tudo se aprende. Parte foi sorte. 

Coisas tontas, já agora espero ter sorte hoje.

~CC~




sábado, 27 de junho de 2020

Sábado



Chegar e sair muito cedo, antes da invasão. Já era assim antes do vírus, mais será agora.

Uma caminhada na maré vazia e dois banhos de mar, mesmo em água fria. 

E o meu corpo reage enviando ao meu cérebro um sopro, vem aí vida, é boa a vida.

Fazer do pouco muito é um dos meus únicos segredos. Por isso nunca invejei carros, casas, barcos, aviões, em suma o terreno da fortuna em que o muito parece ou pode ser mesmo pouco.

~CC~



quarta-feira, 24 de junho de 2020

Meu querido mês de junho



Perco junho sentada 10 horas por dia num escritório emprestado, agora que a casa se tornou excessivamente quente. Mas terei que lá voltar e ainda trabalhar lá.

Perco junho, esse mês que costumo amar pelas praias quase vazias, o sabor das cerejas e os enormes fins de tarde que entram com luz pela noite dentro.


Perdi sempre junho por ser desde sempre um dos meses mais intensos de trabalho, mas este ano dói-me mais este fechamento, por vir na sequência do que vem. A exaustão espalha-se pelo corpo como se fosse o próprio vírus.


~CC~

sábado, 20 de junho de 2020

Beijos


O Sul é um beijo branco de sol e sal.

O Norte é um beijo verde, com vento fresco e sabor a água doce.

~CC~


(Juro que isto não é uma nova versão do "tenho dois amores")


quinta-feira, 18 de junho de 2020

Mais uma ruga



Lentamente vamos observando os traços da velhice a chegar. Antes preocupava-me se gostavam de mim, isso era um ingrediente chave do meu desempenho profissional e da relação pedagógica com os estudantes, esse desejo de reconhecimento das minhas qualidades profissionais.

Agora preocupo-me se gosto deles, se os reconheço na sua integridade e humanidade, se sinto que vale a pena a luta. Fico derrotada e infeliz se tal não acontece. 

Ontem ganhei aqui mais uma ruga, uma espécie de cicatriz de valor e se ninguém a vir como tal, pouco importa.

~CC~

terça-feira, 16 de junho de 2020

Porque escrevemos em blogues?



Diria que ele está certo.

Mas acrescentaria: para nos encontrarmos connosco próprios.

E precisamos dos outros para isso? Sim, precisamos. O espelho só nos devolve a nossa própria imagem.


~CC~




PS. Caríssimo, saberá você, mais especialista que eu, se o plural de blog é blogs ou antes blogues, nas minhas pesquisas ambas estão certas, mas eu prefiro a palavra mais composta.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Aceito um



Aceito um com notas de chá.

Gosto de erva príncipe, rooibos, hibisco, perpétua roxa, roseira brava...ou só mesmo uma casquinha de limão.

Que falta me (nos) fez.

~CC~

domingo, 14 de junho de 2020

Preciso de ter asas



Fui ver as tuas praias do Tejo. Aquelas em que tomavas banho no intervalo do almoço com um bando de miúdos, à pressa, antes que as mães ralhassem ou a régua da professora se materializasse nas tuas mãos.

As praias de rio não atravessaram a minha infância, nem os rios.

A primeira vez que entrei num rio a sensação de estranheza e desconforto foi grande, não via o fundo e os pés batiam num chão meio mole, onde se enterravam ligeiramente. Não podia acreditar que tomavam banho entre gafanhotos, embora lhe chamassem alfaiates e assegurassem que eram inofensivos.

Aprendi a gostar dos açudes, da água fria e escura, das folhinhas caídas na água, a ignorar os bichos, a perder o medo. Não havia opção, animar as férias dos miúdos incluía levar um grupo de dez ao rio, foi um dos meus trabalhos de juventude. Foi só aí que percebi o que era uma aldeia, um baile de bombeiros, um parque de merendas, o valor de um largo de igreja e de uma capela de milagres.

Mas ainda me lembro já adulta de me espantar com os piqueniques, a algazarra, a imensidão das famílias, a panóplia dos brinquedos, o volume da música. Era um Portugal rural que (ainda) desconhecia.

Mas as praias de rio nunca serão verdadeiramente as minhas praias. Preciso de sentir o sal na pele. Mas vou cada vez menos e este ano esta ameaça das praias hipervigiadas, guardadas, com sinais e bandeiras está a afastar-me ainda mais. Não gosto de barreiras, de prisões, de vigilância, de ordens. É um nó no peito que cresce, ando a ver se não me sufoca. Preciso de ter asas.

~CC~



terça-feira, 9 de junho de 2020

A felicidade


Sem dúvida, uma bela pergunta. O que é a felicidade?

Definições levam-nos a sinónimos e sinónimos não nos levam a lado algum. Se fosse por aí, ficaria aqui a alinhar palavras como bem estar, alegria, prazer, e outras tantas, todas encarreiradas e nenhuma tão bonita.

Poderia também falar-te de momentos em que a certeza da felicidade se instalou. Não te posso falar do primeiro beijo mas sim do primeiro beijo de um grande amor, um amor que me acompanhou durante toda a juventude, que perdi na entrada da idade adulta. O primeiro beijo ao raiar da noite, numa paragem de autocarro, à entrada do Outono. Poderia falar-te daquele momento em que vi a minha filha pela primeira vez, do sentimento intenso de prisão doce que a vida inaugurou ali.  Poderia falar-te da primeira vez, já bem entrada na idade adulta, em que dancei nos santos populares. Poderia falar-te das vezes em que houve sexo com prazer, desse bem estar que se segue. Poderia falar-te das pequenas mangas da cidade do cabo e da estrela do mar que me visitou no Oceano Índico. Poderia falar-te daquele momento em que acordei viva depois de uma cirurgia complicada de dez horas.  Do primeiro banho depois dessa cirurgia, muitos dias depois. Poderia falar-te do dia de hoje, das miúdas que elogiaram a forma como consegui trabalhar com elas neste semestre tão atípico, curiosamente a disciplina que me parecia a mais surreal e quase impossível de trabalhar em ensino à distância.

Mas prefiro dizer-te que o que ela é em si mesmo, é uma utopia e que só existe como tal, como desejo puro, um desejo que nunca nos larga e por isso nunca se sacia mesmo quando saciado.

~CC~


Nota: O António fez o desafio e eu respondi, mais alguém aí se atreve?

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Volte a um lugar onde foi feliz


Há dias, minha amiga, passei num dos seus lugares.

Acho que devemos voltar aos lugares onde fomos felizes, pois podemos sê-lo uma e outra e outra vez. Se calhar seremos outros, os lugares serão outros e a felicidade não será portanto igual. Ainda assim, poderá ser outra felicidade.

~CC~


domingo, 7 de junho de 2020

Sem voz



A miúda contava que quando eram simples adolescentes, ainda menores e saiam os 3 amigos, ela, um rapaz branco e um rapaz negro e a polícia os mandava parar, era sempre o miúdo negro que era revistado. Saído do bairro negro da cidade para integrar um liceu de miúdos brancos, era uma espécie de corpo estranho que a escola não absorvia.

Para mim começou logo no 9º ano quando a directora de turma me disse que ela andava com más companhias: era o tal miúdo negro. O que lhe conheci como pecado mais grave foi um canivete maior do que era suposto. Por ele foi condenado a quase um ano de trabalho comunitário. Ainda hoje são amigos.

Racismo há, sem dúvida, infiltrado em todos nós, não é um mal do outro, mas alguns legitimam-no e dão-lhe livre curso, embalados pelas vozes de uma nova direita disposta a tudo.

Mas os mais discriminados no mundo são os pobres, os pobres de qualquer cor de pele. São sem voz.

~CC~

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Se o céu não estivesse azul...



Hoje os meus olhos encheram-se de lágrimas pela primeira vez desde que tudo isto começou. Foi  um momento breve, só tive que tirar os óculos e desligar um pouco a câmara. Muitas emoções neste final tão atribulado de ano lectivo, um final que nem tem fim à vista.

Já ontem as coisas tinham sido difíceis, uma das estudantes que mais prezo chorou e disse coisas detestáveis numa tutoria em grupo, o que me custou foi que foram sobretudo acusações aos colegas, ainda mais do que aos professores. Imaginem vocês que a Ana Gomes de repente começa a falar como o André Ventura. Eu bem tentava desmontar-lhe o discurso mas acho que não me ouvia, só se ouvia a ela própria.

Já a outros só me apetece tirar-lhes o chapéu, como é possível contornar os obstáculos de forma tão diferente, e isto é válido para docentes e para estudantes. Aquela miúda valente que sabendo que não podia voltar ao hospital ficou ligada a um adolescente internado na pediatria que não sabe ler nem escrever e apoiou-o durante todo este tempo. As que se fotografaram em mil poses com livros e criaram um instagram de promoção da leitura e da escrita. Os que telefonam para casa dos idosos para os ouvir contar histórias. A que criou uma visita virtual para um museu que não a tinha. Não esquecerei. É bonito. Mas nem sempre é bonito, às vezes dói e é feio.

Quando as emoções se tornam chumbo e a casa parece desabar sobre mim, saio. 

E às vezes, como hoje, encontro a esperança ao virar da esquina. Eram duas miúdas e um miúdo de 13 ou 14 anos, máscaras colocadas e uma bola que iam passando uns aos outros, entre sorrisos. Irão procurar um jardim, uma sombra, continuarão a jogar à bola, talvez tirem por um bocadinho as máscaras, mas com o cuidado que as traziam não irão facilitar. Que bonitos. Se o céu não estivesse azul de certeza que teria ficado assim para contornar as suas silhuetas.

~CC~





quinta-feira, 4 de junho de 2020

Por haver



Chegámos vivos a Junho.

Podemos saborear cerejas. Eram lindas as que trouxeste, polpa nem demasiado doce, nem demasiado mole, exactamente como gosto delas.

Às vezes fico subitamente feliz. Por haver cerejas. Pela vossa companhia.

~CC~

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Duvida metódica



Quais são mais importante(s), a(s) pessoas que escolhemos para o confinamento ou as que escolhemos para o desconfinamento?

Ou será que umas e outras terão que ter características diferentes?

Isto se as pudermos escolher, há simplesmente quem não tenha tido escolha.

~CC~