domingo, 28 de fevereiro de 2016

Amizades que não deixamos que o tempo roube.



Um amigo que não lê este blogue ligou-me e ficou a falar uma hora ao telefone comigo. Não pediu nada, não queria combinar nada, foi só mesmo para saber como eu estava e dizer como ele estava. Parece ter sabido o quanto eu precisava disso. Não desliguei com um obrigada, creio que deve ter sido com um até sempre. Passamos muito tempo sem nos vermos, somos amigos desde o ensino secundário e procuramos manter o contacto, não temos qualquer plano,  evitamos até as circunstâncias como as felicitações pelo Natal, vamos resistindo sem sabermos até quando. Uma parte boa da nossa vida são sem dúvida as amizades que não deixamos que o tempo roube.
~CC~

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Eterna devedora e sempre em falta



Todos os dias me pedem coisas. O telefone toca ou chega um mail. São em geral convites mas também têm às vezes um carácter impositivo, são coisas que já devia ter feito ou para as quais me atrasei. A pressão é tanta que nem acho graça a coisas que devia agradecer, como um pedido para gravar um programa educativo em torno de uma boa experiência de trabalho. Gravei-o quase um ano depois do pedido ter sido feito e o mais grave é que nunca o vi. 

Devo quotas a pelo menos duas associações, a uma delas que me escreve com regularidade, na qual nunca me inscrevi oficialmente. Nunca respondi a um mail do sindicato e nunca votei em nenhumas eleições deles. Não respondi a tempo ao meu centro de investigação e arrisco, com razão que me peçam para sair, o mais grave é que não sei se me importo realmente com isso. Petições são muitas e nunca assinei nenhuma.  Nos dias bons acho graça e fico bem disposta, sinto que se lembram de mim, mesmo com a escolha que fiz de morar numa cidade periférica, de não viver num dos nossos grandes centros urbanos (acho que são só mesmo Lisboa e Porto). Nos dias maus, apetece-me ser do Norte e saber dizer asneiras como quem bebe água. Para além do mais, grande parte destas coisas não é remunerada e às vezes envolve custos, hoje chegou um mail a convidar-me para um focus group para avaliação de uns materiais pedagógicos, merecem-me toda a credibilidade mas ir Lisboa tem custos. Às vezes rio-me com certos convites, o último foi para ser júri num concurso de golfinhos para embelezar uma das praças da cidade, fiquei tão espantada que nem sabia o que dizer, mas está certo, eu gosto muito de golfinhos. E é a minha cidade, como dizem os brasileiros, valeu!

Sou eternamente devedora a alguém e estou em falta de certeza, é esse o sentimento com o qual vivo. Fico embevecida a contemplar a vida dos reformados, por exemplo, no filme 45 years aquele casal tem tempo para tudo. Salva-me a minha filha a ralhar: Ó mãe, então tu querias viver naquela pasmaceira?!

~CC~










domingo, 21 de fevereiro de 2016

Certos odores, certos abraços



O teu abraço ficou retido no fim da auto-estrada, a cerca de 250km de distância. O teu abraço ficou perdido numa outra região, outro mar, outro horizonte. Esperança que ainda assim o guardes para mim.

Com o limão do teu quintal fiz um chá para ver se nele se diluía uma parte do calor desse abraço ausente, agora que o meu corpo parece tão desfeito pela invasão viral ou bacteriana que o frio trouxe e o sol não conseguiu afastar. Acatei a tua recomendação de fazer um caril. São crenças antigas e enraizadas de que certos odores nos restituem a respiração. Certos abraços também.

~CC~


sábado, 20 de fevereiro de 2016

Ainda me importa



Lembro-me com precisão do tempo em que não comprava roupa feita na China, na Malásia, na Indonésia... Também mal entrava em lojas de chineses. Depois cedi pouco a pouco por várias razões, entre elas a complexidade que é a de saber onde reside o mal e a injustiça no mundo de hoje. A clara noção de que bem pior do que a loja dos chineses é a marca fina que compra a preços ínfimos para vender muito caro, apenas pela etiqueta. Dantes disfarçam o made in, agora não sei se alguém se importa.

Comecei a frequentar lojas de chineses e lojas baratas de marca também por questões económicas, a comparação entre os preços de certos materiais na loja dos chineses e numa retrosaria ou papelaria, deixa-nos arrasados e com os valores todos baralhados. E há a carteira e o fim do mês.

Quando somos apanhados pela gripe, a tristeza tem certa tendência para se colar à pele e há que fazer alguma coisa para além de tomar remédios. Eu saio de casa mesmo que não deva fazê-lo, mas se cá fico tenha a sensação de chocar o vírus, de estar a dar-lhe colo. Preciso de o chocalhar, de o enviar pelo vento, mesmo que seja uma saída curta, pois constato que  depois não me sinto bem.

O vírus também tem o condão de nos deixar feias, a pele vermelha, o nariz a pingar, o cabelo impossível de pentear. Apetecia-me ter alguma coisa que me pusesse mais bonita. Como tal, decidi entrar numa loja de roupa considerada barata, talvez a que se diz ter os preços mais baratos do mercado. Ora as calças que queria comprar custavam 40 euros e tinham sido feitas na China. Não consegui, de repente assaltou-me a imagem de quanto na realidade aquelas calças teriam custado em termos de fabrico, de quanto teriam ganho aqueles que as confeccionaram, mesmo que tenha sido só uma ou duas pessoas a manipularem uma máquina automática. Mais revoltante que a venda barata é que alguém compre barato para vender caro ou muito caro. Gostava de criar um critério de justiça para estas coisas mas não é fácil quando não se vive numa quinta e nos dedicamos à permacultura. Confusos que estamos e somos, cidadãos imersos na sociedade de consumo, muito facilmente a coerência descamba em incoerência. Mas ainda sinto revolta muitas vezes, incomodo-me, com a consciência de quão pouco isso é.

~CC~





quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Freud explica...



Sonhei toda a noite com escolas que eram quintas, professores que andavam de bicicleta, aulas no campo e tutoriais e passeios com alunos ao estilo de Sócrates, o filósofo. Não sei se Freud explicará sonhos que pouco têm de sexuais mas radicam, por certo, em alguma ansiedade por meios alternativos de vida.

~CC~

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

É preciso pouco para me fazer feliz.




Cada dia em que o sol vem assim pela manhã é um dia a mais na minha vida, uma vontade de respirar como se fosse ainda a primeira vez e este fosse o meu primeiro dia de sol.

(pensar que adormeci a pensar que em breve morreria)

~CC~

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A invenção das datas


Venho de um centro comercial chocada com as montras. Por todo o lado há corações de todos os tamanhos, feitios e texturas, o mau gosto é mesmo imperativo.

Inventaram-nos mais um dia para consumir. E penso porque é que certas datas me merecem ainda algum respeito, ou pelo menos mais respeito que outras. São, por certo, todas inventadas. Mas umas são também importadas como esta do dia dos namorados já que por cá santo casamenteiro só mesmo Santo António. Por certo os restaurantes ficarão impossíveis e as rosas esgotarão. A melhor coisa serão os menus concebidos para o efeito, haja alguma criatividade. Penso como é difícil viver fora desta caixa quando a caixa nos apanha por todo o lado, quando a norma de tão impositiva, acaba por nos influenciar. Uma vez ou outra terei cedido, sobretudo em determinadas ocasiões, felizmente pontuais, em que me apeteceu ser como todos os outros. De vez em quanto sou apanhada pelo desejo da normalidade, do senso comum, da maioria, ou como queiram chamar-lhe. Passa rápido. 

Recordo, contudo, uma vez em Itália, na ponte Vecchio, em que senti um desejo intenso de lá deixar um cadeado. Foi complicado porque na altura não tinha marido nem namorado mas estava a apaixonar-me por alguém que por acaso andava por ali ao meu lado. A beleza da ponte era tão grande como a beleza do rapaz pelo que o encantamento me atou o pensamento. Nunca ouvi tantas missas em latim, era uma coisa barata de se fazer e permitia-me ficar silenciosamente ao lado dele e suspirar para dentro. Nunca houve quase nada entre nós, pelo que o cadeado, certamente, me envergonharia anos depois, pois não seria um sinal de um grande amor mas sim de um devaneio nada merecedor de um cadeado numa das pontes mais bonitas do mundo. Talvez gastasse mesmo uma viagem para ir lá arrancá-lo.


Ponte Vecchio bridge in Florence lit up


Se te pedisse alguma coisa, preferencialmente sem no dia dos namorados, seria outra vez uma farrobinha (vulgo alfarroba bebé) porque com a primeira me encantaste, da segunda não consegui cuidar como deve ser e anseio por uma terceira porque quero ter coisas verdes e vivas perto de mim e preciso de quando em quando de sinais de amor. Já rosas, por favor nunca me dês.
~CC~


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Dia frio, um bocadinho quente



Dias frios também podem ser quentes. Ou ter bocadinhos quentes quando matamos saudades de alguém, quando comemoramos, quando nos rimos com cumplicidade, quando partilhamos uma comida boa. Foi tão bom te ver hoje. 

No meio dos meus dias, mesmo quando são frios, há bocadinhos destes com várias pessoas, uma força motriz para enfrentar um período que se avizinha um pouco mais difícil. A noite mal dormida de hoje foi o sinal de que o corpo se está a queixar mas a forma como a dor foi passando também um sinal de que mais uma vez hei-de resistir e, se puder vencer, ainda melhor. Acho que mereço ultrapassar mais esta prova com êxito e, se possível, chegar ao fim destas provas. 

Grande parte das pessoas que conheço não tiveram tantas e tantas provas apenas para ter um emprego estável (existe?), isto ao fim de cerca de 30 anos de trabalho (e duas licenciaturas, um mestrado e um doutoramento). Outras terão passado provas ainda maiores, certamente. Mas a nossa dor é a nossa dor e há em cada uma a sua singularidade. Por ora, só quero ultrapassar isto. Venham daí bocadinhos bons para ajudar.

~CC~










segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

É só uma história de amor



Abandonei desta vez o meu cinema e a fila e o lugar certo, abrindo a excepção de ir ver um filme a um centro comercial, custa-me e é preciso um motivo forte.

O realizador diz que Carol é uma história de amor como qualquer outra, apesar de ser vivida entre duas mulheres, é apenas uma história de amor cheia de obstáculos, como são muitas outras. Diria que talvez, diria que não. As mulheres não se amam do mesmo modo que um homem e uma mulher, há alguma coisa de diferente quando o corpo do outro é igual ao nosso. Não que eu saiba por experiência porque nunca a vivi, uma vez apenas senti uma amizade tão forte por uma mulher que quase podia ser amor mas era muito jovem e assustei-me. Nesta história de amor há também duas coisas maravilhosas, o modo como se supera a pertença a uma classe social para o encontro com o outro e o modo como se dá ao outro aquilo que mais o encanta, reconhecendo-o. Para uma a música, para outra a fotografia. É apenas uma história de amor sim, mas tão bem contada que não devem perder.

~CC~

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Tudo o que eu preciso



Tudo o que eu preciso e por ora não tenho. Setembro no Alentejo, uma escola velha renovada por gente jovem. O sumo, acabadinho de fazer, foi uma das bebidas mais deliciosas que bebi. Não é uma coisa frequente em mim ter saudades do passado.

~CC~

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Olá Fevereiro



Olá Fevereiro
Que sejas melhor que Janeiro.
...
Basta que chova um pouco menos
Ou que seja uma chuvada intensa apenas,
que lave tudo e a tudo dê de beber
e depois chegue o sol

Que o sol me beije autêntico
e não tenha que ficar longe dele
em salas fechadas com cortinas até ao chão
com um e mais outro power point

Basta um passeio
três conchas apanhadas na areia
um momento a encher-me de areia
de rosto voltado ao sol

Basta uma tasquinha boa
um petisco novo
um estalinho de sabor picante
um vinho de que goste

Basta outro acordar
com um galo ou pássaros
um outro pequeno almoço
metade de uma papaia e está bem

Que venha um abraço amigo
desses de nos encostar
e um beijo demorado e limpo
desses de nos acordar.

Que venha Fevereiro
e se vá logo o Carnaval
Que venha Março
mês de vos festejar

Adeus Janeiro
Este ano preferi Dezembro
Quero gostar deste Fevereiro.

~CC~