quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Às quintas



Há uma semana que não ia à escola, deixei os moços entregues a outros colegas. A recomendação médica apontava os dez dias mas aos oito o corpo disse que podia arriscar o embate com a função.

E foi bom voltar por causa do carinho que no dia a dia nos passa completamente despercebido, com o tempo e alguns conflitos até nos pensamos mal amados e começamos a desenvolver teorias sobre o modo como a organização nos despreza, nunca cheguei a tanto, mas houve dias cinzentos. Hoje olho para estas múltiplas cores que habitam as organizações com alguma tranquilidade, se na vida não há preto e branco, aqui também não.

Estás melhor?! Já aqui? Que bom professora vê-la de volta!

Aguento-me bem! Pensavam que se viam livres de mim? Cá estou para vos infernizar...

Ia conseguindo respostas mais ou menos divertidas, boas para esconder a emoção, afogando o turbilhão num sorriso tranquilo. Não estava pronta para o que ia acontecer. À saída da escola os moços trajados a preceito bebiam como mandam as regras deles. Não há quinta feira ao fim da tarde que não seja negra e bem regada. Como eles tapavam a estrada, abrandei a marcha do carro para se desviarem e me deixarem passar. É então que um aluno meu diz alto aos outros: deixem passar, deixam passar, é a professora mais gira da escola! Fiquei estupefacta com o atrevimento e ainda mais com o teor da afirmação e, sobretudo, certa de que a bebida turva a percepção da realidade. Aguentarão estes fígados todas as quintas do ano? Pensei como é que amanhã ele me irá encarar na sala de aula mas depois realizei que amanhã já não se lembra do que disse. Eu cá também não!

~CC~






terça-feira, 29 de outubro de 2013

Eis quem somos


Há uns quatro anos atrás tive a primeira amostra do que nos pode fazer perder tudo como povo, como país.

Geria eu o condomínio com mais um vizinho, depois de um inusitado processo com uma empresa que vendo que isto era um difícil e complicado processo, em que pouco ou nada havia a ganhar em termos monetários, abandonou o barco. 

Este é um condomínio único com três blocos de apartamentos diferentes unidos por um pátio e garagem comum. O bloco A estava quase integralmente habitado, no B moravam dois habitantes e no C metade das casas estavam ocupadas. Gerido como propriedade horizontal única, não havia dinheiro para pagar a luz nos três blocos e colocar os elevadores a funcionar, para além da dívida acumulada. Proposta do bloco A: vamos separar-nos, nós não temos culpa que os outros não tenham dinheiro, se nós estivermos sozinhos conseguimos. Fui sempre contra esta ideia, mas perdi. Durante quase um ano o bloco B esteve sem luz e sem elevador, o Bloco C sem elevadores e o Bloco A com luz e elevadores.

Quem pode, pode. Os outros que se aguentem.

~CC~


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Cheguei talvez tarde


Habita-me com frequência o sentimento de ter chegado tarde. Chegar tarde a uma coisa com a qual queríamos ter convivido mais cedo, que nos impregnasse antes, que fosse nossa vida.

Tenho muitas vezes esta sensação em relação à cidade em que actualmente vivo, ainda que viva muito fora daqui também. Mais ainda em relação ao livreiro velho e à Culsete. Ao contrário de outras livrarias que se destacam pela beleza ou lugar em que estão, a Culsete não tem nada disso. É só uma livraria no rés de chão de um prédio feioso, numa parte pouco nobre da cidade. Não tem café, nem sítio para tertúlias literárias, nem palcos, nem micros.  É até um bocadinho sombria, parece sempre meio desarrumada. O que sempre fez dela o que é, foi o homem que a criou. Não é história que conheça bem, nem que dela me tenha apropriado. Fui vulgar cliente, dessas que entram como quem entra num lugar vulgar e se confronta com a grandeza do amor aos livros antes de tudo, primeiro que tudo. O que testemunho é apenas a experiência de como comprar um livro pode ser afinal um acto invulgar, uma longa conversa, um olhar sobre o mundo. Era assim que Manuel Medeiros, o livreiro velho, atendia na Culsete. Cada um de nós era um ser humano que ele queria conhecer porque tinha entrado lá à procura de um livro. 

Não teve despedidas nacionais, nem honras de primeira página nos telejornais, nem apareceu pelos blogues nem foi mil vezes citados no FB. Era só o livreiro velho, um homem português excepcional. 


~CC~

domingo, 27 de outubro de 2013

O corpo



O que a doença nos traz, qualquer que ela seja, é a escuta do corpo. Não é o corpo sacralizado como objecto de desejo e via para o prazer, esse já o vimos endeusado por tudo o que é publicidade e exposto mil vezes, primeiro pela indústrias que dele se ocupam e vendem e agora vulgarizado e acessível nas mil poses adolescentes e adultas que invadem as redes sociais. É verdade que o corpo do desejo também se aprende com dificuldade, porque do que está exposto até ao que e genuíno e é nosso, vai uma grande distância.

Mas esta é uma outra aprendizagem. De repente comanda o que nunca comandou, o que nos habituamos a dominar, quase a humilhar, castigando-o quando não nos quer responder. A brufen qualquer gripe se leva ao trabalho, há muito que a maior parte de nós não sabe o que é deixar um dia o emprego por estar doente. Não acredito na profusão dos atestados médicos impostores, sobretudo nos tempos que correm, essa é um prática muito mais abandonada. É por esta ditadura que exercermos sobre o corpo que a velhice nos custa horrrores, quando o corpo já não responde, é o caminho para a nossa desorientação. 

O meu corpo tratei-o sempre mal, com o desprezo de quem ama muito mais o intelecto. Nunca lhe pratiquei a escuta, muito menos o cuidado. Agora oiço-o. Se tenho dores mantenho-me em casa, se elas desaparecem saio um bocadinho. Se não posso andar depressa, ando devagar. Se não posso estar tanto tempo em pé, procuro sentar-me mais. Trata-se de construir uma relação, um diálogo. Se não for assim, será ele que nos dominará com a sua desistência da vida, é pelo corpo que morremos. Lembro Vinicius e o modo como o corpo o fez morrer cedo, não penso que o quisesse, amava a vida. Se há coisa que tenho aprendido é que esse amor nem sempre diminui com a idade, pode até aumentar. À medida que o meu corpo me dá sinais de mal estar, percebo melhor o seu valor como instrumento de vida e sinto que isso me modifica também interiormente.

~CC~


sábado, 26 de outubro de 2013

Protestar



Pode não ser a melhor fórmula e se ter gasto a espontaneidade  no seu trajecto mas é ainda um modo legítimo de dizer que estamos descontentes. Estaria lá mas ainda não posso fazê-lo. Quanto à frase usada neste cartaz, sinto que me questiona, ainda que a expressão desobediência civil seja muitas vezes conotada com violência e por aí não vou. Há, contudo, outras formas de o fazer. Por exemplo, os reitores das universidades portuguesas deram um bom exemplo quando simplesmente se recusaram a entregar o orçamento. E há pequenas coisas ao nosso alcance.


~CC~

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ver nascer a lua muitas vezes...



De todas as vezes que o perigo espreitou foi sem aviso prévio. Resisti porque tomada de surpresa só pensava em viver. Na auto estrada para Sul em 2008, saída da via e capotamento solitário, uma falha inexplicável. Saí do carro sozinha por uma janela partida, estava de cabeça ao contrário, uma posição em que nunca me tinha achado, nunca fui de fazer muitos pinos. Em 2009, episódio de Salmonela em Angola, caminho vertiginoso em relação à desidratação, dias loucos em que perdi a capacidade de me equilibrar e de andar. Tão longe de casa, embora no lugar em que nasci. Em Janeiro de 2013, a história do gado bovino de que ainda rimos em família. Desta vez na estrada nacional vinda do Sul, o bicho aparecido do nada, imerso na noite. Uma nuvem a cobrir todo o espelho da frente, a pancada, depois as sirenes, o aparato das duas vias cortadas. Nenhum arranhão na pele, nada partido, nenhum trauma. A sorte que nasce do azar ainda se chama sorte?

Perante tudo isto deveria estar confortável com a entrada tão sossegada e planeada amanhã no hospital para uma operação que todos dizem ser simples. Mas estou angustiada. Em primeiro lugar não gosto de tirar coisas de dentro de mim. Em segundo não gosto que estranhos me toquem. Em terceiro tenho claustrofobia galopante (ou seja, tem vindo a piorar). E desta vez sei, das outras não sabia, fui apanhada na curva. É assim um dia estranho e estou desconfortável, talvez um eufemismo para a palavra medo.


Tenho um recado: tragam-me de volta que eu ainda quero ver nascer a lua muitas vezes.

~CC~

domingo, 20 de outubro de 2013

Considerações sobre finanças



Sobre o atoleiro em que andamos metidos está quase tudo dito, ocupam esse espaço uma centena de blogues dedicados ao assunto.

Agora os ministros...

A Maria Luís tem ar de menina que estudou bastante e se portou sempre bem, programa bem as roupas com o sorriso, o louro parece ser genuíno, o que nos invoca genes pouco mouros e mais germanos, adequados aos tempos que correm. É uma mulher moderna, fala bem Inglês e não nos envergonhará em qualquer salão europeu. E não perde a compostura, ultimamente ensaiou uma manobra de empatia com os portugueses, invocando o seu papel de mãe de três filhos, coisa que Gaspar nunca faria. Ficámos a perder. Gaspar não podia ser levado a sério, tinha aquele toque de pessoa que não era bem pessoa, parecia uma marioneta bem ensaiada, soletrando as palavras e vincando o seu significado como se falasse para extraterrestres. Não praticava a empatia, muito menos o sorriso cândido ou o desvio do texto de base para órbitas familiares. Gaspar era um funcionário, esses como sabemos, são os mais bem preparados para lidar com a banalidade do mal. Cumprem quando estão em cena e e saem dela discretos, rumando para bem longe, tão alheios como começaram. A Maria Luís Albuquerque é de outra fibra, por parecer humana, assemelha-se a alguém que sofre. Esses que dizem ser como nós, sentir como nós, esses são mais assustadores. Se têm, como ela diz, consciência do sofrimento alheio e ainda assim o perpetuam, como poderemos chamar-lhes?

~CC~


Paternidades


Eu também sou filha da leitura, tanto ou mais do que da escola. Gostar de ler foi o meu passaporte para horizontes maiores. Hoje sou também filha da Culsete, esta livraria que se colou como um bem à cidade. É preciso lutar muito para que estas livrarias não sejam varridas do mapa e o melhor a fazer é mesmo ir lá comprar livros. Fazê-lo é uma experiência bem diferente do que comprar noutro lado qualquer, se lá estiver o livreiro é certo que a conversa será boa. E os moços mais novos, mesmo sem o carisma dele, já se vão ajeitando.

~CC~




sábado, 19 de outubro de 2013

Centenário


"Notou que a sua cerveja preta era o whisky do patrão!"


Vinicius não escreveu apenas das mais belas canções de amor de toda a música brasileira, ousou incomodar-se também com seu semelhante, sonhando que onde ele antes dizia "sim", aprendeu a dizer "não". Ainda precisamos tanto dessa aprendizagem.

(gosto mais do poema dito pelo Mário Viegas, mas seria injusto não o homenagear com o português do Brasil, essa língua que é mesma e é outra).

~CC~




sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A mais bonita



Tito Paris cantou-a hoje.
Sorriso doce. Que saudade de um beijo.
Fazer um mar de poesia.

~CC~

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Homens frente ao rio



Ao fim da tarde, homens dentro dos carros, parados, de frente para o azul do rio. Esfria ao fim da tarde, nenhum vento que os impeça de sair, de caminhar. Contudo, eles ali estão imóveis, parecem-me ter os olhos vagos, vazios. 

Quando cruzei o primeiro, nada achei de estranho, era só um homem dentro do carro. Mas logo apareceu um segundo, um terceiro. As idades a variar entre os cinquenta e os sessenta em cinco. Ali parados de frente para o rio, sozinhos. Hesito classificá-los, algures entre os reformados jovens e os desempregados tardios, entre os divorciados recentes e os de longo e cansado casamento. 

Pensava que só as mulheres vinham assim fluir de um fim de tarde, lavar os olhos antes de ir para casa. Hesito em classificá-los: algures entre aqueles que não querem chegar a casa a horas de ajudar ao jantar ou aqueles que escondem a poesia a correr-lhes nas veias. O certo é que não saberei quem são. Serão apenas três homens ao fim da tarde junto ao rio.

~CC~

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Abraçar




Hoje o meu dia passou por aqui. Estes realizadores têm um modo curioso de referir o que fazem: dizem que contam histórias do mundo natural. Observam os rituais de uma família, esperam que a rosa albardeira floresça, aguardam que a borboleta que mora no medronho saia do seu casulo, mergulham à procura de um caracol marinho que por só se alojar no estuário ficou com o nome da cidade. Tudo isto para uma coisa só: ligar as pessoas à natureza, sem esse laço somos dela o seu efectivo destruidor. Mas como somos parte dela iremos de arrasto.


~CC~

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Olá Brasil




O mano veio, o mano foi. Em tudo essa saudade, essa gente tão outra, tão nós. 

~CC~

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Guarda rios


O teu coração tem a luz prateada e azul da lua, por mim passam os ribeiros.

Certas imagens são em si mesmo uma história. Dessas histórias em que a felicidade é pintada de negros, azuis e laranjas. Certos lugares são em si mesmo um rio de almas que se foram despindo até lhes sobrar apenas a nudez, essa coisa tão feia e tão linda. O amor é um depósito de marcas que o tempo constrói, sobrevivente brilha mais.

Certos pássaros contam histórias de pessoas, o meu é um guarda rios. Adiante encontraremos a nascente.

~CC~


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Doenças modernas



Parece que os miúdos deitam álcool nos olhos para a bebedeira ser mais rápida. Parece que os arquitectos decidiram fazer escritórios onde as janelas não abrem mais e as pessoas adoecem porque o ar depende da abertura das tubagens. Não há edifício público no qual se possa entrar sem mostrar documentos, não raro confiscados logo à entrada e não se deixa sair ninguém que não traga o papel devidamente assinado. As pessoas adoecem com o controlo a que estão sujeitas, os que estão dentro e os que estão fora. As pessoas adoecem porque não têm no FB o número de likes desejável para se sentirem amadas. Os formandos, já adultos, perguntam-me se são avaliados também pelo número de entradas na plataforma moodle, confesso que me custou a perceber. Pensava que o moodle era uma coisa prática e boa e não um controlador de entradas.

As pessoas quando ligam às outras, uma coisa rara porque há mails e fóruns para dizer tudo, começam as suas frases por: estou doente, estou cansada, hoje aconteceu-me uma chatice. Depois chegam os amantes das estatísticas e afirmam que as doenças mentais afectam x da população portuguesa, y vive a antidepressivos.  Ficamos a saber, que bom, não nos preocupa muito porque as estatísticas não têm rosto, não são da nossa família, quanto muito algum amigo do FB.

Dá muito trabalho manter-me saudável num mundo doente, qualquer dia adoeço, se é que já não estou.

~CC~




quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Publicidade duvidosa


À partida parece uma simples imagem de praia mas vejam um pouco melhor. O que é que se associa a esta imagem de férias? Em que posição estão estas mulheres? O que está na cabeça de quem faz publicidade? E de quem a aceita como sua imagem de marca? Como chegam até nós as mensagens subliminares e se alojam no nosso cérebro?

~CC~



segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Na volta



O meu pensamento viaja no jardim daquele espaço entre o passado e o futuro. Penso como chegámos aqui todos juntos depois deste anos tão difíceis, uns lá mais atrás e outros mais recentes. Penso nas feridas que temos e que nestes dias parecem meros risquinhos na pele. Estamos invulgarmente calmos para uma festa, até as crianças estão mais ou menos tranquilas, embaladas pelos tons de coral escolhidas pelas duas moças. Que parentesco as une? Não sei dizer, já não há nomes para designar todos os laços, era necessário inventá-los. 

Estamos felizes mas não é mais aquela alegria aparvalhada que nos deixava meios histéricos nestes dias. Envelhecemos não há dúvida e com esse envelhecimento também trazemos outra paz aos nossos adolescentes e às nossas crianças. Há tristeza misturada com a nossa alegria. É pelos que não estão, é pelo futuro que anuncia mais partidas em busca de trabalho ou por mera saturação do país que temos. É por medo, eu fico invariavelmente triste sempre que sinto os meus sonhos a fugir-me. Sempre quis ter uma casa onde pudesse abrigar toda a gente, um lugar para a família, fazer uma sopa para todos com os legumes colhidos na horta. E todos juntos é cada vez mais miragem. A casa é cada vez mais miragem, fico a desejá-la sozinha mas não é sozinha que a quero ter.

Penso nesta rapariga sobrevivente que acompanhei à quiomioterapia com apenas 30 anos e como se casa agora na presença de dois filhos, um nascido antes e outro depois. Quando ela disse que este dia parecia um milagre, a outra mana respondeu certeira: se há milagre aqui és tu. 

Esse foi sempre o nosso segredo, sermos a nosso modo e cada um de nós, um milagre. Atendendo a que milagre quer dizer aqui ser uma coisa frágil que resiste a um vento forte, caminha por uma tempestade, deixa-se curvar para se erguer mais adiante.

~CC~




quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Laços



Os pais deste moço lindo com que me enleio casam-se no próximo Domingo. É bom porque vem o nosso único irmão do Brasil (aqui somos só manas) vestimos uns vestidos mais bonitos do que os habituais e se estiver bem disposta até ponho rimel. Continuo a saber muito pouco do amor e ainda menos de casamentos mas parece que o bolo é simples e original e os agora noivos pareciam já estar a ensaiar no casamento anterior (da outra mana). Vejam lá o que fazem pois não podia gostar mais dos vossos filhotes.

~CC~

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Esse deslumbramento



Será mesmo verdade que morreu J.M.G Clézio? Não consigo confirmar a notícia. Esse escritor lindo, reservado, tão alto e tão distante, o europeu menos europeu deste continente? Gostava muito da poesia que para mim ele escrevia em prosa, as descrições mais belas da natureza são dele, como em Duras há o deslumbramento francês pelas indomáveis ilhas, água em dilúvio, calor húmido. Também gosto das mulheres dele, as continentais tristes, as nativas selvagens, a clonagem de umas e outras em figuras ambíguas e perdidas à procura de si próprias. O amor é sempre um laço intenso, cruzado quantas vezes pelo afastamento e pela dor. A dificuldade em guardá-lo mesmo quando é intenso.

Mas não há nada que ele descreva melhor do que o emudecimento do homem pela natureza, essa comoção quando alguém se vê diante do mar, de uma floresta, do alto de uma serra e se deixa tocar pela beleza. Já senti a mesma coisa muitas vezes, quase uma vontade de fusão com o coração que parece bater na terra.

Apenas 66 anos, podia ter ficado por cá a escrever mais algum tempo para nós.

~CC~



terça-feira, 1 de outubro de 2013

Gigantes


Esta música sempre foi a minha música. Representa como um quotidiano banal se pode iluminar, essa possibilidade de nos superarmos que vive ao nosso lado.

(Chico e Vinicius, tão novos, tão maravilhosos)