terça-feira, 9 de junho de 2020

A felicidade


Sem dúvida, uma bela pergunta. O que é a felicidade?

Definições levam-nos a sinónimos e sinónimos não nos levam a lado algum. Se fosse por aí, ficaria aqui a alinhar palavras como bem estar, alegria, prazer, e outras tantas, todas encarreiradas e nenhuma tão bonita.

Poderia também falar-te de momentos em que a certeza da felicidade se instalou. Não te posso falar do primeiro beijo mas sim do primeiro beijo de um grande amor, um amor que me acompanhou durante toda a juventude, que perdi na entrada da idade adulta. O primeiro beijo ao raiar da noite, numa paragem de autocarro, à entrada do Outono. Poderia falar-te daquele momento em que vi a minha filha pela primeira vez, do sentimento intenso de prisão doce que a vida inaugurou ali.  Poderia falar-te da primeira vez, já bem entrada na idade adulta, em que dancei nos santos populares. Poderia falar-te das vezes em que houve sexo com prazer, desse bem estar que se segue. Poderia falar-te das pequenas mangas da cidade do cabo e da estrela do mar que me visitou no Oceano Índico. Poderia falar-te daquele momento em que acordei viva depois de uma cirurgia complicada de dez horas.  Do primeiro banho depois dessa cirurgia, muitos dias depois. Poderia falar-te do dia de hoje, das miúdas que elogiaram a forma como consegui trabalhar com elas neste semestre tão atípico, curiosamente a disciplina que me parecia a mais surreal e quase impossível de trabalhar em ensino à distância.

Mas prefiro dizer-te que o que ela é em si mesmo, é uma utopia e que só existe como tal, como desejo puro, um desejo que nunca nos larga e por isso nunca se sacia mesmo quando saciado.

~CC~


Nota: O António fez o desafio e eu respondi, mais alguém aí se atreve?

13 comentários:

  1. Dizia um rapaz que tinha algum atraso aqui da minha rua: "" Felicidade é dá bijinho e conversá...""

    É isso.
    .
    Cumprimentos

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    1. É isso, Ryk@rdo, da boca dos mais simples sai muitas vezes a verdade... :))
      Dia feliz.
      🌻

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    2. Também é!
      Mas não há pessoas com "atraso", atrasados é que há...são aqueles que nunca chegam a horas a lado algum:)

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  2. Depois do texto que a CC escreveu não há mais nada a dizer. Talvez seja isso tudo. É um norte, a felicidade.

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    1. "Um norte", ora aí está...a Bea consegue...e ainda pode desenvolver muito mais...
      ~CC~

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  3. Concordo com tudo o que disse, especialmente com o último parágrafo.
    Para mim a felicidade são momentos: ninguém é feliz 24 horas por dia, 365 dias por ano.
    Há períodos da nossa vida em que quase tudo corre bem, e quando os recordamos dizemos que fomos muito felizes... mas também tivemos problemas e contratempos; simplesmente o saldo foi positivo :))

    E depois há o oposto :(

    Portanto, é isto: a felicidade são momentos felizes, e a sabedoria de os saber aproveitar para mais tarde recordar.

    Dia feliz, ~CC~!
    🌻

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    1. Sim Maria, mas não é só o passado...é ainda o futuro que se deseja.
      ~CC~

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  4. A felicidade plena não existe. O que sentimos, a espaços, são momentos positivos, por um ou por outro motivo.
    Os próprios filósofos, os verdadeiros, não conseguem uma definição.
    E nada de misturar o amor nesta coisa da felicidade. São coisas não misturáveis. Quando muito fará parte dos tais espaços.

    Saúde, um abraço.

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  5. Ora explique lá melhor essa ideia das "coisas não misturáveis"...fiquei curiosa pois não compreendi muito bem o que queria dizer.
    ~CC~

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    1. Simples: o amor nada tem a ver com a felicidade, a tal que nunca ninguém ainda conseguiu definir. Talvez esteja aqui a 'confusão' de V. Exa.
      Sendo verdade que o amor contribui para a felicidade, pergunto: e o resto?
      Muito filosófico, confesso.

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    2. Bom António, talvez não seja assim tão filosófico, numa receita cada ingrediente não vale por si só mas no seu conjunto funcionam. Então, não penso ter confundido mas sim ter pensado em momentos e em ingredientes. Mas é na frase final que acredito mais.É o desejo dela que a faz existir.

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  6. às vezes dou comigo a pensar se a felicidade não será uma prática, uma teimosia, uma determinação, que às tantas se torna modo de ver a vida. será que pode ser?

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  7. Talvez Ana, talvez possa ser um modo de conduzir a existência, é assim em determinadas filosofias de vida ou até em religiões, fala-se muito no budismo e na Hygge, a tal palavra que parece fazer dos dinamarqueses um dos povos mais felizes do mundo (mas poderá a cultura importar-se?).

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