sábado, 11 de janeiro de 2014

Banhos de água doce



Nunca tomaste banho num rio? Não, nenhuma das quatro raparigas de 20 anos sabia o que significa entrar na água escura, afastando os alfaiates e tacteando com os pés os lugares menos lodosos. São meninas de mar e fizeram uma careta quando lhes falei em banhos de água doce, em entrar por dentro de um rio. Também tive esse arrepio, esse quase nojo, essa tamanha hesitação. Deixar de ver cada parte mergulhada na água como se tivesse desaparecido do nosso corpo, nenhum azul, nenhum sal.

Mas alguns açudes deram-me o que o mar nunca me deu, uma sensação inebriante de silêncio no meio da natureza, o corpo desnudo inteiramente livre entre a água, as folhas das árvores a dançar na brisa ligeira sempre que boiava, nenhuma onda para me assustar. Não sei o dia em que deixei de sentir revolta por me terem arrancado à minha terra natal mas tenho a certeza que os rios foram um elemento chave da minha reconciliação com este país. Naquele tempo não eram como agora tão habitados, talvez porque não soubesse deles pelos folhetos turísticos mas sim pelas vozes da comunidade em que me alojei uns tempos, alguns Verões da minha vida. Verões de intensa aprendizagem para quem vinha de um meio urbano, na verdade das então chamadas urbanizações. Nunca tinha apanhado amoras, ido a um baile de bombeiros, subido pelos corta fogos, afastado as moscas para comer uma peça de fruta.

Os primeiros banhos de água doce foram tormentosos, um teste a tantos medos. Agora parece-me impossível não me ir deitar dentro de um rio de quando em quando.

~CC~

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