domingo, 4 de novembro de 2018

Dia dos mortos



O meu pai escolheu a véspera do dia dos mortos para morrer. A minha tia também. Ele, um homem autodidacta, viajado pelo menos por quatro continentes e residente em três deles, sábio, culto, mau feitio, doido por mulheres, casado três vezes, mais vezes em união de facto ou qualquer coisa semelhante a isso. Ela, uma mulher algarvia, casada uma única vez com o homem amado, insubmissa, mau feitio, com imensa graça na sua má língua do sul. Em comum, a solidão do fim. Consta que ela ainda teve muitas flores, não sei de onde vieram, morava num lar e apenas a filha a visitava. Ele, nem isso, sem flores, nem amigos, nem família, nem mulheres. Apenas e quase as filhas, as três filhas do seu primeiro casamento. Em comum, a profunda solidão do fim.

~CC~

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