sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

No lugar do outro



O rapaz é engraçado, meio ruivo, olho azul, sempre muito calado. Agora tem mesmo que falar comigo pois acompanho-o no estágio. Diz-me que sente saudades de casa, embora esteja a cerca de 150 Km dela, e quando o diz, há quase uma lágrima a pairar-lhe nos olhos. Essa foi a primeira vez que esteve perto de chorar, houve outras, como quando me disse que em geral não sentia motivação para nada, muito menos para fazer um estágio. Vinte anos e tal desalento perturbam-me bastante. 

Procuro invariavelmente as palavras certas para o estímulo, com a consciência que o consigo em menos de metade. Na minha família, gente que saiu do nada, de um lado um polícia, do outro uma doméstica, somos todos bastante motivados para a vida em geral e para as profissões em particular, por isso custa-me entender, mas tento o mais que consigo situar-me nesse lugar do outro, de um outro vazio e triste. 

É que a mim só me assusta o tempo que não me chega para tudo o que ainda quero fazer e a hipótese, sempre em cima da mesa, da doença voltar e me impedir ainda mais.

~CC~

2 comentários:

  1. Há gente assim, desanimada de nascença. E mais aqueles que a família impediu de crescer e mal lhe saem debaixo da asa não aguentam. E há os que vão à luta haja o que houver e não têm menos saudade nem menos lhes custa a separação, mas fazem gosto em ganhar por esforço próprio, a vida apaixona-os. E não é uma questão profissional, é de carácter, são assim mesmo.
    Mas como nem todos somos iguais, oxalá consiga mobilizar esse garoto, CC. Entusiasmá-lo.
    Entendo os seus temores. Não passei pelo mesmo, mas suponho que consigo avaliar. Vai continuar tudo bem, vai ver. É preciso dar à vida os faróis da esperança:). E não pensar demais.
    Bom fim de semana.

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  2. a vida inteira pela frente às vezes também assusta :)

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