terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Advento (III)

 

Era um pinheirinho de Natal artificial com três palmos de altura que ela carregava de bolas, bonequinhos, algumas fitas e luzinhas. Fazia-o com desvelo, não obstante todos os anos avisar que já não o conseguiria fazer, eram as bolas que caiam das mãos e os olhos que já viam muito mal.

Foi assim nos últimos anos, depois dos pinheiros verdes e naturais que a ajudei a carregar anos a fio, muitas vezes trazendo-os nos autocarros cheios de gente. Era um cheiro inconfundível do qual ainda tenho saudades. Mas pouco a pouco fomos percebendo que não era o correcto.

Como é que pode ser Natal e ela não estar cá? Como é que pode ser Natal sem as suas filhoses, a sua torta de cenoura, o seu pudim de laranja? Como é que pode ser Natal sem ter que lhe comprar os postais e os envelopes onde deixava a nota de 20 euros para cada neto. Por fim dizia-me: compra também alguma coisa para ti. 

Como é que pode ser Natal sem ela?

~CC~

4 comentários:

  1. Também já carreguei um pinheiro que cheirava a pinheiro. Foi há muitos anos.
    Um abraço.

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  2. Pode. Mas não parece. Meu pai apenas comparecia: não comprava envelopes nem ajudava a enfeitar a árvore - os homens da sua cepa ligam nada a essas coisas. E sei que é Natal. Sei, mas nada fiz para que seja. Contudo, há quem queira vivê-lo e estar em família. Eu própria, em certo lado de mim, me critico. Ninguém é sozinho e os nossos gestos são esperados como de hábito.
    Pouco existe a que não nos adaptemos, CC. E isto é tão terrível como luminoso.

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    1. É verdade Bea, a vida segue o seu curso, mas isso não quer dizer que a falta de alguém não apareça às vezes como se fosse uma urgência, uma necessidade, um vazio. Depois voltamos a querer estar bem, a vida é demasiado preciosa para entristecermos todo o tempo.

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