quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Advento (V)

 

Maria não era a mãe de Jesus. José não era o pai. Esta foi portanto uma das mais famosas adopções da história da humanidade. A prova de que o amor não precisa de correr no mesmo sangue. 

Um dos magos (parece que eram sacerdotes e não reis) era já velho, outro era jovem e outro de meia idade. A pele de cada um era de cor diferente, consta que um um deles seria negro. Um trouxe um presente muito valioso, mas os outros nem tanto, eram simbólicos ou remédios (incenso e mirra). É um elogio da heterogeneidade e não da homogeneidade, do encontro entre pessoas diferentes que fazem um caminho em comum. E da sabedoria, afinal sabiam orientar-se pelas estrelas.

É provavelmente uma história inventada, ainda assim encontro-lhe a beleza que as instituições religiosas (todas elas) raramente souberam homenagear devidamente. Valores essenciais, contudo, em risco.

~CC~


4 comentários:

  1. O seu advento soma e segue:). Creio, ao invés da CC, que Maria era de facto a mãe. Por obra divina ou não, Cristo foi gerado dentro dela e, julgo, só por isso se fez homem - uma semente divina fecundando um óvulo de mulher. Não julgo que Maria fosse apenas um invólucro, o sangue dela correu nas veias de Cristo, ajudou a formá-lo (afinal, nada nos diz que a gestação não durou nove meses e, entre um momento de união e nove meses existe grande diferença temporal). Por incrível que pareça, penso que, desde a sagrada fecundação-mistério, o nascimento de um Deus que se fez homem valoriza a mulher (Cristo foi o resultado da herança divina de mistura com a humana-feminina). Claro que pode ser apenas por necessidade dela, mas prefiro ler assim (não parece descabido, ou é?). Sinto grande afinidade com José, esse pai adoptivo quase inexistente e por quem Cristo nada fez (terá morrido cedo?) - não o ressuscitou mas não o teve por perto nos tempos peregrinos nem na época dos milagres , não lhe atendeu um pedido e tampouco José esteve presente na morte mais sofrida de toda a sua humanidade). José escasseia nos livros dos quatro evangelistas. E no entanto amou aquele garoto como seu, arcou com os boatos que decerto houve quando Maria engravidou, e, se é certa a sua virgindade, nem sexo houve entre o casal, bastou-lhes a amizade, essa espécie de amor cuidadoso e mais lasso, menos exigente, mas sempre atento ao bem do outro. José amou Cristo como se fora seu filho de sangue. Mal comparado, é como na leitura: nas mesmas letras e frases, cada leitor faz da mesma obra o seu livro. Na leitura como noutras situações. Por vezes tão ou mais importantes que estas. Deve ser por isso que existem escritores dizendo que o livro só fica completo com o que leitor vê nele e que nos encontros com os leitores eles lêem na obra muito mais do que o autor ali quis deixar. É como se cada leitor decifre um sentido-mistério nas palavras. Que há muito mistério na literatura e até no mesmo livro lido em épocas diferentes da vida do leitor, não é mesmo?
    Gostando do seu advento.
    Bom fim de semana prolongado

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    1. Prolongado nada que amanhã vou trabalhar o dia todo...
      Gostei de a ouvir acerca do José, é personagem que também me intriga....

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  2. Um texto muito esclarecido que apreciei.
    Um abraço.

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