Em geral não tenho saudades de ser jovem. A não ser pela capacidade que tinha de me apaixonar perdidamente. Vamos perdendo essa voragem, esse poder de encantar e ser encantado, de dizer palavras sonoras, graves e grandes como "meu amor". Ficam a morrer-nos na boca pouco a pouco essas palavras de incêndio, trocadas por outras pequenas que não deixam marca.
Lembro-me daquele Natal em que recebi inesperadamente um postal daquele rapaz de olhos verdes que há muito eu seguia com intensidade desde a sala de aula até ao pátio e à saída da escola. Trocávamos timidamente poucas palavras naquele ambiente em tudo hostil a pessoas como nós. Ficava a ouvi-lo na aula de Filosofia, embevecida com tanta inteligência. Não achava que fosse algum dia reparar mesmo em mim, quanto mais deslumbrar-se. Quando o postal chegou, com tanta luz, tanta ternura, senti que os meus passos se tinham tornado dança e que se eu abrisse os braços conseguiria mesmo voar. É disso que tenho saudade.
~CC~
Todos temos saudade desses amores sem futuro - e ele o que importava?! O que sentíamos subia alto e o resto era Nada. Digo eu a quem nenhum rapaz disse meu amor, embora admita que um ou outro o pensou em alguma altura da qual não dei conta.
ResponderEliminarA idade é outra. Hoje, ainda que sinta saudade, já não me apetece esse bater de coração arrasador, a sensação nova de alegria tão excessiva que dói, a vida suspensa só por vermos quem gostamos. E depois o pleno da retribuição a recriar-nos o mundo. É outra luz, renascemos.
Preciso pelo menos de intensidade média:)
EliminarHá um momento da nossa vida em que iniciamos uma época de saudade que não acaba mais e vamos perdendo, um a um, aqueles que povoavam a nossa saudade.
ResponderEliminarBom Natal e a Felicidade a que tem direito.
Um abraço.
Não nos podemos deixar afogar na saudade, estamos (bem) vivos enquanto somos capazes de construir futuro(s), quando somos só passado é porque já começámos a morrer.
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