segunda-feira, 15 de abril de 2013

Casas contentores jantares de pão


 
Oito horas num supermercado nos arredores da minha cidade. Nunca lá vou, hoje foi um acaso. Um supermercado cheio de homens, em geral mal vestidos, mal arranjados. Juntando dois mais dois percebo que são homens das obras. A cidade cresce para ali, ainda cresce, mesmo que ninguém venha mais comprar as casas. O que levam eles no cesto? Duas ou três coisas no máximo. Leite, pão e queijo. Cervejas, pão e chouriço. Não há carne ou peixe, não há nada para ser cozinhado. Provavelmente estão deslocados das suas famílias, talvez a viver em contentores casas quartos. Cada um come a sua coisa, juntando a sua solidão à do outro sem, no entanto, a perder. Homens que não aprenderam a cozinhar, homens sem as suas mulheres.
 
Há uma fila enorme em cada uma das duas caixas abertas, cada homem levando apenas duas ou três coisas. Coisas que os confortam sem os alimentar nem consolar. Levam batatas fritas, chocolates e invariavelmente pão, pois apesar do pão estar tão caro é ainda o mais barato. Deixo passar um e outro porque tenho o cesto cheio de coisas e o agradecimento que me fazem é de uma educação sem mácula. Não fazem barulho, não conversam uns com os outros, estão assim calados na fila do supermercado, são a imagem do país com os seus cestos com duas ou três coisas. De repente lembro-me dos homens das obras da minha adolescência e de como tinha tanto medo deles, eram absolutamente intrusivos e ruidosos e comentavam cada mulher que passava. Podiam ser um bocadinho ordinários por deformação profissional mas tinham também uma alegria incorporada que os fazia sentir senhores do mundo. Nesse tempo as obras eram à medida de um país que julgou que quanto mais as fizesse mais se podia tornar grande.
 
~CC~

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