Sonhei contigo esta noite, sonhei que te encontrava lá. Não sei há quantos anos não te vejo, por certo mais de vinte. Provavelmente foi contigo que ouvi pela primeira vez uma música do Chico Buarque. Eras de uma família Lisboeta, de média burguesia, engajada na esquerda e muito culta. Eu era apenas uma miúda dos subúrbios, pobre e sem grandes horizontes culturais, na música o mais longe que tinha ido era ao horizonte dos Beatles e dos Génesis. Era milagre que me tivesses prestado atenção, atendendo ao meio em que vivias. Eu, tão tímida, reservada, média aluna, sem saber muito bem o que queria da vida, sem nenhum conhecimento dos meios artísticos ou culturais alfacinhas. Estava muito perdida quando me encontraste.
Um dia perguntei-te porquê eu.
Usavas xaile, disseste. No dia em que te vi pela primeira vez tinhas um xaile, nenhuma miúda de quinze anos usava um xaile como tu usavas (nos anos oitenta).
Já não o tenho, nem sei bem como o arranjei, provavelmente pedi à minha mãe que o fizesse ou então encontrei-o lá por casa, deixado por alguém, já que a minha casa era também uma espécie de pensão.
Tenho contudo um ali muito bonito que raramente uso, não tenho coragem de usar algo tão excêntrico num tempo em que a excentricidade já quase não existe, é tudo muito mais banal. Lavei-o e estendi-o enquanto pensava em ti.
Talvez o leve.
~CC~
Ah, a nostalgia de um passado onde nos sentimos bem!
ResponderEliminarTambém fui ouvir o Chico.
Beijo
Nem sou muito dessas coisas Maria, há pessoas que procuram os amigos e os amores do passado, muito através do FB...mas nos sonhos nós não mandamos, não é?:) Beijinho e gostei de a ter por cá.
Eliminar~CC~
Pois acho que o devia levar, é uma memória boa a fazer-lhe companhia, onde quer que vá. Também gosto de xailes, o aborrecido neles é que me escorregam dos ombros e são pouco práticos para quem usa mochila.
ResponderEliminarPois é...e também sou muito adepta das mochilas.
Eliminar~CC~
adoro xailes :)
ResponderEliminarQuando for ao norte, levo um para as noites de verão:)
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