Pudesse eu ter tempo para escrever tudo o que guardo nos meus olhos e no meu coração. Uma parte ínfima chega aqui. Mas mesmo quando escrevo só para dentro de mim, é enorme o bem que me faz. São desenhos e desenhos de histórias, tantos rostos, tantos diálogos, tantos lugares, tanta dor, tanta felicidade.
Por exemplo, aquele lugar. O túnel debaixo do prédio na cidade cada vez mais turística. Nesse túnel vive alguém que tem uma cama no chão miraculosamente arrumada, uma pilha de t-shirts impecavelmente dobradas e dois pares de sapatos alinhados. Há um saco também, deve conter comida ou utensílios de higiene porque todas as coisas estavam limpas. Uma dignidade tão grande naquele lugar e a confiança em tudo deixar assim na sua ausência. É assim que vivemos, paredes meias com túneis que são casa, mares que são cemitérios e bombas que caem e matam sem sentido. Tragédias que nos arrepiam num minuto e que no outro esquecemos, afogamos a nossa impotência e amortecemos a nossa dor.
E a tragédia que fica e nos corta o coração muito e muito tempo é sempre a de alguém que conhecemos e a quem chamamos irmão, mãe, amigo/a ou amor. A tua minha amiga, a tua. É a tua que fica a doer-me, perdoem-me todos os outros. Perdoem-me esta imperfeição.
~CC~
Não há o que perdoar CC, a tragédia do mundo - para poder ser em nós -, é sempre a tragédia doída de alguém concreto.
ResponderEliminarUm abraço aos dois
É bom estar aí desse lado e compreender.
ResponderEliminarAs chagas deste mundo.
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