segunda-feira, 29 de abril de 2024

Aqui na terra

 

É verdade que a Primavera arrefeceu toda a vontade de mar. Mas deixou-me os mergulhos no verde. Que belos se oferecem os campos na sua imensidão de cor e que estonteante ficou o céu raiado de ora branco, ora cinzento, ora azul. Às vezes chove e cheira a terra molhada, ela pulsa, respira e absorve. Pouco a pouco tudo desligo-me das amarras e é como se pudesse finalmente descansar. E tanto que preciso de descansar, o corpo pede, mas a cabeça pede ainda mais.

Não há renovação se não sairmos do mesmo lugar, se não partirmos de quando em quando das casas que habitamos, esses lugares que são casulos e nos guardam e protegem, são também os lugares que nos criam as rotinas, os vícios, nos prendem às obrigações. Nem é de viajar que se trata, não é esse frenesim que de tudo tomou conta como se não houvesse lugar que não pudéssemos conhecer à face da terra. Para mim é apenas olhar-me noutros espelhos, contemplar o céu de um outro prisma, reparar que as borboletas têm outro voar e a vegetação muda. Com a distância o que dói e incomoda, dói sempre menos, seja qual o quadrante do corpo em que a dor se situa, nem todas se instalam dentro de nós como incuráveis.

Pausa é pousar ao de leve numa das cores do arco-íris e sentir a bênção do silêncio que habita a noite.

~CC~


4 comentários:

  1. A sua crónica de hoje é o que posso chamar "Uma crónica saudável". Estou em total acordo.
    Um abraço.

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    1. Ah, ah...fico na dúvida se quer ou não que volte às crónicas da caixa de bombons, faltam 19 (já comidos).

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  2. Que texto bonito. Concordo, nesses casos não é o número de km que comanda, é sair da rotina das obrigações e dos horários, atender ao que existe em redor e pasmar. Presumo que se volta mais predisposto para o que tem de ser. Se bem que, na impossibilidade disso mesmo, se possa tirar um tempo diário para olhar as pequenas coisas, ou apenas fazer algo que nos dê prazer. Mas não tem o mesmo sabor e é analgésico de menor duração.
    Curta a sua pausa, CC. Ao máximo.

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    1. Obrigada Bea, em algumas coisas sou como a Bea e contento-me com pouco, pausa curta e lugar verde e silencioso.

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