O homem equilibrava-se num passo de quase dança, depois lançava um braço num desenho no ar e atrás dele ia a mão, ele ficava a olhar para ela, apanhava o balanço para rodopiar. Estava sozinho, encerrado no seu próprio labirinto, os outros pouco lhe interessavam. Fiquei a vê-lo, fascinada. Talvez tivesse sido bailarino no tempo em que a sua vida era como a nossa, com uma casa, um emprego, uma família. Agora é um homem da rua, nome que prefiro a sem abrigo.
E fiquei a pensar nessas três coisas que definem a vida do comum dos mortais, tão triviais, banais e que nos parecem a maior parte das vezes tão pouco dignas de nota. E, contudo, são pilares, nelas nos equilibramos por muito que por vezes nos gerem desequilíbrio.
São reflexões de transição, esta não é para mim uma época de festa. É sempre de introspecção. O champanhe, o fogo de artificio, a festa, tudo isso é um ritual que não acompanho com facilidade, tenho tendência a ficar de fora a observar, talvez porque o que eu queira mesmo é observar-me, analisar-me, procurar o caminho do que quero deixar e levar comigo. Se eu fosse um bicho estaria agora a hibernar ou a mudar de pele. Por certo a atravessar o longo silêncio do solstício de Inverno rumo a um fogo onde se irá consumir o que quero deixar para trás e abraçar o que quero levar para diante.
Afinal eu e o homem da rua não somos assim tão diferentes, só queremos equilibrar-nos, dançar sem cair.
~CC~
Nota: Um abraço a todos os que rodopiam nesta rua e um bom ano.