segunda-feira, 20 de julho de 2015

Miradouro



Tu não podes saber e às vezes é difícil explicar-te. Eu não posso viver sem a beleza dos lugares, há na natureza qualquer coisa que me emociona e me faz sentir viva. Faço de conta que vou a certos sítios para comer ou beber mas o motivo maior pelo qual vou a certos cafés é porque estão no cimo de um monte, de uma falésia. Mesmo eu, com as minhas vertigens.

Sonho que um dia nesses lugares não haverá gente a fumar, a falar alto, música ruidosa, telemóveis, computadores, tablets, selfies. Mas há porque a imperfeição faz parte dos lugares perfeitos como os defeitos habitam aqueles que amamos. Tolero porque o essencial é o que consigo isolar para mim, aquela parte que em tudo vale a pena. Custa até menos a fazer com os lugares do que com as pessoas.

Neste imenso estuário há lugares muito bonitos e vou lá muitas vezes sozinha, só para me inebriar de verde azul. Quando estou lá sozinha quero muito que estejas lá comigo e isso faz com que a minha solidão diminua. Mas nada se compara à tua presença de carne e osso ali, ao pé de mim, a ver o mesmo que eu. É para ver contigo que quero levar-te comigo. Acredito que isso nos pode unir mais, como se a beleza do que vemos nos pudesse, ao inebriar um e outro, criar um laço maior. Às vezes é difícil explicar-te. Creio que é por isso que as pessoas devem ver o por do sol juntas, amigos, irmãos, amantes, para que aquelas mesmas cores se misturem no sangue que corre nuns e  noutros e assim se possa encontrar os vestígios do que amaram juntas. Às vezes é difícil explicar-te.


~CC~

1 comentário:

  1. Por vezes, nem a nós próprios conseguimos explicar o que sentimos na presença de tamanha beleza, por isso ficamos, por instantes, sem chão e sem ar.

    Um abraço, CC.

    ResponderEliminar

Passagens