sábado, 20 de fevereiro de 2016

Ainda me importa



Lembro-me com precisão do tempo em que não comprava roupa feita na China, na Malásia, na Indonésia... Também mal entrava em lojas de chineses. Depois cedi pouco a pouco por várias razões, entre elas a complexidade que é a de saber onde reside o mal e a injustiça no mundo de hoje. A clara noção de que bem pior do que a loja dos chineses é a marca fina que compra a preços ínfimos para vender muito caro, apenas pela etiqueta. Dantes disfarçam o made in, agora não sei se alguém se importa.

Comecei a frequentar lojas de chineses e lojas baratas de marca também por questões económicas, a comparação entre os preços de certos materiais na loja dos chineses e numa retrosaria ou papelaria, deixa-nos arrasados e com os valores todos baralhados. E há a carteira e o fim do mês.

Quando somos apanhados pela gripe, a tristeza tem certa tendência para se colar à pele e há que fazer alguma coisa para além de tomar remédios. Eu saio de casa mesmo que não deva fazê-lo, mas se cá fico tenha a sensação de chocar o vírus, de estar a dar-lhe colo. Preciso de o chocalhar, de o enviar pelo vento, mesmo que seja uma saída curta, pois constato que  depois não me sinto bem.

O vírus também tem o condão de nos deixar feias, a pele vermelha, o nariz a pingar, o cabelo impossível de pentear. Apetecia-me ter alguma coisa que me pusesse mais bonita. Como tal, decidi entrar numa loja de roupa considerada barata, talvez a que se diz ter os preços mais baratos do mercado. Ora as calças que queria comprar custavam 40 euros e tinham sido feitas na China. Não consegui, de repente assaltou-me a imagem de quanto na realidade aquelas calças teriam custado em termos de fabrico, de quanto teriam ganho aqueles que as confeccionaram, mesmo que tenha sido só uma ou duas pessoas a manipularem uma máquina automática. Mais revoltante que a venda barata é que alguém compre barato para vender caro ou muito caro. Gostava de criar um critério de justiça para estas coisas mas não é fácil quando não se vive numa quinta e nos dedicamos à permacultura. Confusos que estamos e somos, cidadãos imersos na sociedade de consumo, muito facilmente a coerência descamba em incoerência. Mas ainda sinto revolta muitas vezes, incomodo-me, com a consciência de quão pouco isso é.

~CC~





2 comentários:

  1. Não é fácil comprar o que quer que seja que não tenha uma etiqueta de um país asiático, como começa a ser muito difícil comprar alguma coisa "em conta", ainda que se opte por marcas baratas. A roupa e o calçado estão cada vez mais caros, ficando a qualidade muito aquém do preço.

    Há uns anos,eu e uma amiga, de férias em Londres, decidimos comprar uns impermeáveis num mercado. Eram baratos e de má qualidade. Só em casa,reparámos que tinham sido feitos na Indonésia, numa época em que havia um boicote aos produtos fabricados nesse país. Ficámos com um enorme peso de consciência, mas, como já tínhamos gastado o dinheiro, não nos desfizemos dos casacos.

    Bom resto de fim de semana, CC. Um abraço

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  2. Deep, não é fácil...os pesos na consciência vão-se ganhando aqui e acolá mas sempre são melhores que a indiferença.
    Beijinho e boa segunda
    ~CC~

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